Arnóbio Zanottas Pereira
Quem sou eu
Al Di Lá
Você se lembra do filme Candelabro Italiano?
terça-feira, 5 de junho de 2012
ANOS DOURADOS: IMAGENS & FATOS: IMAGENS - Cartaz: Faroeste italiano ("Western Spag...
ANOS DOURADOS: IMAGENS & FATOS: IMAGENS - Cartaz: Faroeste italiano ("Western Spag...: Nos anos 60 um gênero (ou subgênero?) de filme atraiu multidões aos cinemas da época: o f aroeste feito na Itália. Pela sua origem, esses f...
segunda-feira, 4 de junho de 2012
ANOS DOURADOS: IMAGENS & FATOS: FATOS = Parada de Sucessos
ANOS DOURADOS: IMAGENS & FATOS: FATOS = Parada de Sucessos: Estas músicas fizeram sucesso em 1958: -Cabecinha no Ombro - Alcides Gerardi -Alone - Lana Bittencourt -Balada Triste - Agostinho dos Sa...
sábado, 26 de maio de 2012
quarta-feira, 14 de dezembro de 2011
Seu Venâncio
Lá pelos idos de 1958 surgiu em nossa cidade um jornal semanal de nome A Tribuna. Era liderado pelo Pedro Jaime Bittencourt (o Eterno), mais o Fernando Martinelli, o André Notari, o Ney e o Lauro Cavalheiro. Naquele tempo os jornais da terra, que eram dois, contando com o A Evolução, lidavam com sérias e distintas dificuldades de ordem financeira. Tanto que, a bem de comprar papel para as rotativas, e cumprimento da obrigação de estar na mão do leitor às sextas-feiras, o Pedro teve de aproveitar como matéria de capa, uma briga envolvendo o Pitico com o Seu Venâncio. A contenda, publicada em três edições, em forma de crônica, tinha a lavra do Seu Venâncio. Foi assim: À época, era Delegado o Herculano Ghan e a D.P. ficava naquela esquina confronte à CEEE, hoje propriedade do Basciri e do Nasser, recentemente QG do Partido Progressista; a redação do semanário estava localizada onde hoje é a Loja da Sinaleira, na calçada defronte à SSMAG, dividindo, na semana de Carnaval, as instalações com a loja A Momolândia, do Conceição. Tudo na mesma calçada do escritório de advocacia do Doutor Aimone Carriconde, que ficava na Visconde de Mauá, na esquina da hoje Farmácia Saúde. Pois - situado o leitor geograficamente -, não tendo o Seu Venâncio encontrado o advogado em seu local de trabalho, dirigiu-se à Delegacia de Polícia; E, justo no caminho onde estava o Pedro, à porta da tipografia, desconsolado por não ter papel para rodar a edição da semana, passa o Seu Venâncio, com um curativo imenso no braço e uma vontade mais imensa ainda de contar o seu infortúnio. Não deu outra... Parou. Contou. O Pedro, ai minina!, nem esperou ele terminar o seu registro. No ligeirão, com o pião já na unha, partiu para o ataque: Que ele Seu Venâncio contasse a desdita numa crônica, como matéria paga, jogando aos quatro cantos do mundo, a agressão do Pitico... Preço acertado saiu a catilinária. Foi ao prelo em três capítulos, nas três edições de 08, 15 e 22 de dezembro de 1959. Os gozadores, aproveitando uma novela radiofônica em que era galã o Amilton Fernandes, na Rádio Farroupilha, chamada o Direito de Nascer, apelidaram a da briga de O Direito de Morder. Eis, copiado ipsis literis, um minúsculo trecho da primeira das três crônicas meio corrigido gramaticalmente, como se vê, por uma boa alma: “ ... Eu disse, tive, fui levar o dinheiro da banha. Ele me respondeu: Lá não se vende banha nenhuma, faz hora que ando te procurando para te dar muito pau. Eu disse: Mas o que é que há, E ele já tira de uma arma branca e levou direito a minha barriga, dizendo: O que há é isto e eu tentei sair fóra, a moda criança, levando a mão direita a arma que ainda-me atingiu a coxa esquerda, um ferimento bastante profundo e com o mínimo de 11c centímetros de comprimento conforme diversos cidadões viram e ainda podem ver, ferindo-me a mão do mesmo lado a respeito do ferimento eu tinha mais argumentos a fazer, mas a pedido de um amigo deixo de faze-lo nesta ocasião. Daí, como ia contando, Deus me ajudou a dar um soco que a arma desapareceu, mas aí ele tentou novamente deixar quatro filhos pequenos sem pai; dando-me uma gravata para me enforcar, mas Deus me ajudou de novo, deu-me. A lembrança de pegalo o braço com uns pedaços de dente que foi toda a minha salvação, pois talves com a dôr ele parou de tentar-me apertando o cogote com os dedos, ocasião em que eu, que não sou de briga soltei-o e nos empurramos um do outro e ele ficou dizendo-me; Tenho que te dar muito. Eu disse: vou dar parte de ti, ordinário, me cortaste e embarquei no auto e vim direito ao Dr. Aimone...”. Como dizia o Seu Ramãozinho, filosofando lá na Liga Operária, espargindo os seus ensinamentos: Assim como são os homens, são as criaturas...
Lá pelos idos de 1958 surgiu em nossa cidade um jornal semanal de nome A Tribuna. Era liderado pelo Pedro Jaime Bittencourt (o Eterno), mais o Fernando Martinelli, o André Notari, o Ney e o Lauro Cavalheiro. Naquele tempo os jornais da terra, que eram dois, contando com o A Evolução, lidavam com sérias e distintas dificuldades de ordem financeira. Tanto que, a bem de comprar papel para as rotativas, e cumprimento da obrigação de estar na mão do leitor às sextas-feiras, o Pedro teve de aproveitar como matéria de capa, uma briga envolvendo o Pitico com o Seu Venâncio. A contenda, publicada em três edições, em forma de crônica, tinha a lavra do Seu Venâncio. Foi assim: À época, era Delegado o Herculano Ghan e a D.P. ficava naquela esquina confronte à CEEE, hoje propriedade do Basciri e do Nasser, recentemente QG do Partido Progressista; a redação do semanário estava localizada onde hoje é a Loja da Sinaleira, na calçada defronte à SSMAG, dividindo, na semana de Carnaval, as instalações com a loja A Momolândia, do Conceição. Tudo na mesma calçada do escritório de advocacia do Doutor Aimone Carriconde, que ficava na Visconde de Mauá, na esquina da hoje Farmácia Saúde. Pois - situado o leitor geograficamente -, não tendo o Seu Venâncio encontrado o advogado em seu local de trabalho, dirigiu-se à Delegacia de Polícia; E, justo no caminho onde estava o Pedro, à porta da tipografia, desconsolado por não ter papel para rodar a edição da semana, passa o Seu Venâncio, com um curativo imenso no braço e uma vontade mais imensa ainda de contar o seu infortúnio. Não deu outra... Parou. Contou. O Pedro, ai minina!, nem esperou ele terminar o seu registro. No ligeirão, com o pião já na unha, partiu para o ataque: Que ele Seu Venâncio contasse a desdita numa crônica, como matéria paga, jogando aos quatro cantos do mundo, a agressão do Pitico... Preço acertado saiu a catilinária. Foi ao prelo em três capítulos, nas três edições de 08, 15 e 22 de dezembro de 1959. Os gozadores, aproveitando uma novela radiofônica em que era galã o Amilton Fernandes, na Rádio Farroupilha, chamada o Direito de Nascer, apelidaram a da briga de O Direito de Morder. Eis, copiado ipsis literis, um minúsculo trecho da primeira das três crônicas meio corrigido gramaticalmente, como se vê, por uma boa alma: “ ... Eu disse, tive, fui levar o dinheiro da banha. Ele me respondeu: Lá não se vende banha nenhuma, faz hora que ando te procurando para te dar muito pau. Eu disse: Mas o que é que há, E ele já tira de uma arma branca e levou direito a minha barriga, dizendo: O que há é isto e eu tentei sair fóra, a moda criança, levando a mão direita a arma que ainda-me atingiu a coxa esquerda, um ferimento bastante profundo e com o mínimo de 11c centímetros de comprimento conforme diversos cidadões viram e ainda podem ver, ferindo-me a mão do mesmo lado a respeito do ferimento eu tinha mais argumentos a fazer, mas a pedido de um amigo deixo de faze-lo nesta ocasião. Daí, como ia contando, Deus me ajudou a dar um soco que a arma desapareceu, mas aí ele tentou novamente deixar quatro filhos pequenos sem pai; dando-me uma gravata para me enforcar, mas Deus me ajudou de novo, deu-me. A lembrança de pegalo o braço com uns pedaços de dente que foi toda a minha salvação, pois talves com a dôr ele parou de tentar-me apertando o cogote com os dedos, ocasião em que eu, que não sou de briga soltei-o e nos empurramos um do outro e ele ficou dizendo-me; Tenho que te dar muito. Eu disse: vou dar parte de ti, ordinário, me cortaste e embarquei no auto e vim direito ao Dr. Aimone...”. Como dizia o Seu Ramãozinho, filosofando lá na Liga Operária, espargindo os seus ensinamentos: Assim como são os homens, são as criaturas...
segunda-feira, 28 de novembro de 2011
Conto Curto
Eram três irmãos... Chico, Zé e Mário. Éramos mais chegados ao Mário por ser ele frequentador do Café. Isso quando estava na fase de euforia bipolar. Na fase depressiva ele ficava na janela de casa, bem defronte ao Clube do Comércio. Passasse quem passasse e desse seu cumprimento, o Mário nem sequer piscava um olho, não mexia a sobrancelha. Mas, quando saía da depressão... Nossa!!! Falava pelos cotovelos. Ladainha para ouvido nenhum botar defeito. Emendava períodos e mais períodos numa cantilena sem fim. Não era de muito brinquedo. Quando a coisa engrossava para o lado da molecagem ele nos dava um trancasso soltando as patas. Porém no geral era um cara doce. Quando ficava de presidente do Clube deixava a gurizada taluda entrar sem pagar as mensalidades. Era um pai... Circunstância que, inobstante a bondade, não nos impedia de sacanearmos ele: Um dia, dos de euforia, chegou no Café a cavalo. Gaúcho de gosto, mesmo: aperos de prata no pingo reluzente pelo trato do milho, rebenque com talo de prata e ouro, defeito nenhum... Desceu, soltou as rédeas no chão, deixou-o desmaneado. Da vitrine vimos a chegada dele. Entrou já pedindo um cafezinho para o Tritri. Pedi ao Canhada para fazer-lhe uma indagação qualquer que o distraísse e desse tempo de roubar o cavalo para escondê-lo no pátio da Usina Velha. Não era bola de futebol, era cavalo, mas ele deixou a coisa quicando... quicando... Era só dobrar a esquina. Era vapt-vupt e não tinha vivente que perdesse uma oportunidade tão gloriosa. Não deu outra... O ruim de ser o protagonista nessas picardias é que eu não assistia aos desfechos. As coisas nasciam com uma velocidade extrema. Havia um átimo para a realização da molecagem. E, feita, a gente tinha que desaparecer. E não passar na frente do desgraçado por dias. Precaução necessária para que as vítimas, à simples vista da gente, não lhe desse na telha a descoberta duma autoria qualquer. A cidade, por ser pequena, e não nos brindar com os entretenimentos que hoje estão por aí, nos obrigava a ser criativos, mesmo que cáusticas fossem as molecagens. Outra vez, na mesa do Café com o poeta Lauro Machado, o Canhada e o Marta, chegou o Mário que recém descera do ônibus. Dependendo da fase ele aparecia. Vinha de Pelotas. Tinha ido a filha para lá e ele seguiu-a mudando-se para outra cidade. Sem dó da Terra Natal. Sentou numa mesa ao lado da nossa e começou a cantilena dizendo que ia para o peixe... Tia Rosa, Cizica, Marina ou o que viesse... Ia só tomar um cafezinho para depois chamar o carro-de-praça do Oscar ou do Nelson. Alto e bom som dizia que não haveria de ter puta pobre... Já tinha pedido ao Tritri para guardar a malinha quando se lembrou de tirar um lenço: teria a Diva colocado um na mala? Abrindo-a, a primeira coisa que cai: um babeiro. O Beto da Heloísa era de colo, ainda. O babeiro viera no meio das roupas. O Seu Lauro olhou para nós como quem pedisse socorro: Que cena: o assunto era um e o objeto caído da mala outro. Mas bem que podiam entrar num contexto. O Seu Lauro tinha uma ruga em cada canto dos lábios: na expressão do descontentamento as rugas tomavam tristes formas, desciam para o queixo. Nas ocasiões ridículas as mesmas rugas se invertiam e subiam em direção às orelhas. Era fácil ver que ele já tinha intuído uma bobagem qualquer. Só que não seria tão logo ele a implicar com o Mário. Ele o mais velho na mesa. Sobrávamos nós... O Marta, que tinha os olhos para dizer o que pensava nos olhava... Tinha molecagem para dar e vender naquele corpo... Então, só fez uma senha e levantou-se enquanto eu, rodava o babeiro com o dedo indicador esperando a arrumação da malinha. Ía embora o Marta. Da porta, vendo o Mário juntando os últimos mijados para fechar a mala, pediu: - Seu Mário, não se esqueça de trazer o babeiro de volta. E me dê ele de presente, que eu quero usar um, também, quando for no puteiro. E deitou o cabelo...
Eram três irmãos... Chico, Zé e Mário. Éramos mais chegados ao Mário por ser ele frequentador do Café. Isso quando estava na fase de euforia bipolar. Na fase depressiva ele ficava na janela de casa, bem defronte ao Clube do Comércio. Passasse quem passasse e desse seu cumprimento, o Mário nem sequer piscava um olho, não mexia a sobrancelha. Mas, quando saía da depressão... Nossa!!! Falava pelos cotovelos. Ladainha para ouvido nenhum botar defeito. Emendava períodos e mais períodos numa cantilena sem fim. Não era de muito brinquedo. Quando a coisa engrossava para o lado da molecagem ele nos dava um trancasso soltando as patas. Porém no geral era um cara doce. Quando ficava de presidente do Clube deixava a gurizada taluda entrar sem pagar as mensalidades. Era um pai... Circunstância que, inobstante a bondade, não nos impedia de sacanearmos ele: Um dia, dos de euforia, chegou no Café a cavalo. Gaúcho de gosto, mesmo: aperos de prata no pingo reluzente pelo trato do milho, rebenque com talo de prata e ouro, defeito nenhum... Desceu, soltou as rédeas no chão, deixou-o desmaneado. Da vitrine vimos a chegada dele. Entrou já pedindo um cafezinho para o Tritri. Pedi ao Canhada para fazer-lhe uma indagação qualquer que o distraísse e desse tempo de roubar o cavalo para escondê-lo no pátio da Usina Velha. Não era bola de futebol, era cavalo, mas ele deixou a coisa quicando... quicando... Era só dobrar a esquina. Era vapt-vupt e não tinha vivente que perdesse uma oportunidade tão gloriosa. Não deu outra... O ruim de ser o protagonista nessas picardias é que eu não assistia aos desfechos. As coisas nasciam com uma velocidade extrema. Havia um átimo para a realização da molecagem. E, feita, a gente tinha que desaparecer. E não passar na frente do desgraçado por dias. Precaução necessária para que as vítimas, à simples vista da gente, não lhe desse na telha a descoberta duma autoria qualquer. A cidade, por ser pequena, e não nos brindar com os entretenimentos que hoje estão por aí, nos obrigava a ser criativos, mesmo que cáusticas fossem as molecagens. Outra vez, na mesa do Café com o poeta Lauro Machado, o Canhada e o Marta, chegou o Mário que recém descera do ônibus. Dependendo da fase ele aparecia. Vinha de Pelotas. Tinha ido a filha para lá e ele seguiu-a mudando-se para outra cidade. Sem dó da Terra Natal. Sentou numa mesa ao lado da nossa e começou a cantilena dizendo que ia para o peixe... Tia Rosa, Cizica, Marina ou o que viesse... Ia só tomar um cafezinho para depois chamar o carro-de-praça do Oscar ou do Nelson. Alto e bom som dizia que não haveria de ter puta pobre... Já tinha pedido ao Tritri para guardar a malinha quando se lembrou de tirar um lenço: teria a Diva colocado um na mala? Abrindo-a, a primeira coisa que cai: um babeiro. O Beto da Heloísa era de colo, ainda. O babeiro viera no meio das roupas. O Seu Lauro olhou para nós como quem pedisse socorro: Que cena: o assunto era um e o objeto caído da mala outro. Mas bem que podiam entrar num contexto. O Seu Lauro tinha uma ruga em cada canto dos lábios: na expressão do descontentamento as rugas tomavam tristes formas, desciam para o queixo. Nas ocasiões ridículas as mesmas rugas se invertiam e subiam em direção às orelhas. Era fácil ver que ele já tinha intuído uma bobagem qualquer. Só que não seria tão logo ele a implicar com o Mário. Ele o mais velho na mesa. Sobrávamos nós... O Marta, que tinha os olhos para dizer o que pensava nos olhava... Tinha molecagem para dar e vender naquele corpo... Então, só fez uma senha e levantou-se enquanto eu, rodava o babeiro com o dedo indicador esperando a arrumação da malinha. Ía embora o Marta. Da porta, vendo o Mário juntando os últimos mijados para fechar a mala, pediu: - Seu Mário, não se esqueça de trazer o babeiro de volta. E me dê ele de presente, que eu quero usar um, também, quando for no puteiro. E deitou o cabelo...
Os Irreverentes
Deixando de lado os irreverentes da literatura, por serem ficções, guardo lembrança de quatro que foram de carne e osso: O Doutor Chico, o Zé Amaro e o Paulo Brasil do Amaral, todos de Pelotas e, daqui, o João Fernandes, por apelido Marta Rocha. Todos frequentadores do Café Aquarios. O Paulo foi advogado e jornalista. Freguês cativo do antigo Cherri, onde se deliciava, depois do trago, com o famoso Colchão Alemão, que era o carro-chefe da casa. Dias de chuva ele desfilava pela Quinze com uma capa preta com forro de baeta vermelha. Tirava o chapéu Prada para cumprimentar, principalmente os transeuntes femininos. Tinha verve o Paulo. Era amigo dos outros três irreverentes citados. Mas, era mais amigo, do Marta Rocha. O Paulo, quando a Rádio Nacional era o top de linha da comunicação, a rede Globo de hoje, mais famoso meio de comunicação do Rio e do Brasil, forçou uma despedida, com direito a indenização: Certa tarde, encerrando uma programação em que ele era o comunicador, despediu-se do público com uma frase super debochada: E aqui se despede o loirinho mais gostoso do Sul do Brasil... Rá, ré, ri, ró, rua!!!
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Depois, deste, falo no Zé Amaro. Filho da famosa cantora lírica Hervalense, Zola Amaro. Nas andanças pelo mundo, quando a mãe fazia suas temporadas nos grandes teatros europeus, o filho sempre a acompanhava e de cada um desses cantos do mundo trazia os seus conhecimentos. Era extraordinário quando falava. Prendia a atenção dos amigos. O Zé, não sei se poderíamos chamá-lo de rapaz divertido, ou entendido: gostava só de rapazes... Era espirituosíssimo. Pegava o pião na unha, sempre. Poderíamos, também dizer que ele era, como se diz hoje?, Bucha... Era Bucha meter com ele... Na época das ignóbeis ditaduras do Cone Sul, o Zé Amaro passava na calçada defronte ao Aquário, quando ouviu um dos gozadores do Café dar-lhe a pecha de Tupamaro - que era a marca registrada do terrorismo uruguaio. Nem pensou para revidar: Virando-se para trás, com o dedo sentenciando o gracioso que lançara o apelido, soltou sua graça: Tupamaro, não. Puto Amaro, Tá??? Outra vez, caçando na Praça Pedro Osório, naquele cantinho dos laguinhos, das carpas vermelhas, onde nasce a Butuí, foi surpreendido por uma batida policial à prostituição. Fugindo, subiu num frondoso jacarandá que até hoje existe, e tá lá de prova... O brigadiano, perdendo a paciência, àquelas alturas, brandindo um cassetete vituperava: - Se tu não desceres daí, te baixo a pau... O Zé Amaro, nas alturas respondeu: - Calma, Seu guarda! Não vê que eu sou fruta?... Espera que eu amadureça e caia... Era de morte! Dele, também, outra: Caçava ele um garoto de programa, na época chamados de michés, e acertavam o contrato verbal de prestação de serviços. Difícil se acertarem no preço!!! O bolso do Zé Amaro não tinha mais que uns trocados. Mal davam para comprar uma porção de loló. O moço estava renitente. O Zé, cargoso, soltava lábia pra cima do miché. - Tudo bem, disse o garoto. Por essa mixaria eu vou, mas só boto a cabecinha... Mais que isso só vendo os pilas na mão. Senão, não... E se foram para o banheiro do Aquários... Pois, em dado momento, um cliente estouvado abre a porta, porta de banheiro, privada ou patente só abre prá dentro. Segurança é isso... Pois, como dizia, o cara abriu a porta e deu um safanão na bunda do guri. Minha Mãe de Deus!!! Ah! Se a coisa tivesse ombro, não vinha tanta gente ao mundo... O Guri afogou o ganso até a cola. O que não estava no trato... O Zé Amaro, espirituoso e correto com o garoto só teve a saída de dizer: - Tô endividado pro resto da vida!!!
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Outro irreverente impagável foi o Doutor Chico. Os pelotenses que o digam. Eles o conheceram bem. Tratava as gonorreias de estudantes da Agro e da Técnica sempre sem cobrar nada. E ainda não os deixava ir embora sem as amostras grátis de remédio. Consulta e remédio nunca faltou para guri engalicado enquanto o Doutor Chico prestou seus serviços médicos. Só tinha uma coisa. O estudante entrava pela porta, mas saía pela janela. Depois da consulta ele dizia, abrindo a janela do escritório: - Agora, pula prá calçada que eu te alcanço os remédios... E vê se te cuidas mais desses cavalos de crista, Seu Safado. E dizia com um prazer e um carinho desmedido quando tratava os guris. Quando a Aidil matou o Zé Correia, no consultório deste, nos altos do Itatiaia, ninguém ficou dentro do Aquário. Todo mundo dando fé dali da calçada do Café. Com os populares assistia à movimentação policial o Doutor Chico. Depois, de tudo dado fé, dirigiu-se para o seu consultório, a poucas quadras dali, na Voluntários. Chegando, já atrasado no escritório, por força das circunstâncias, antes de atender a clientela, despejou num canto da sala de espera tudo que tinha dentro da bolsa duma cliente. No outro canto, abriu outra bolsa de mulher e despejou tudo no chão. Depois deu a desculpa: -Não me entram aqui dentro mulheres sem que eu reviste as bolsas... Vocês tão matando os homens...O Doutor Chico era daqueles médicos de família. Coisa rara hoje em dia. Sabia curar, também! A uma cliente muito idosa que ele tratava desde a sua formatura como médico, ele curou um reumatismo e paraplegia só com susto. Que nem soluço: A idosa, chamou o Doutor Chico em sua residência. Entrevada que estava, há dias, cheia de dores reumáticas... Não deu outra. Ele entrou no quarto da velhinha, fechou a porta, deu uma volta na chave. Ela só olhando... O Doutor aprochegou-se de uma cadeira à beira da cama. Sentou e tirou os sapatos. Ato contínuo, levantou as cobertas e vapt! Se tapou... A doente, mesmo com o ossamento carcomido saltou da cama e deitou o cabelo em direção à porta. Cruz! Credo! Que louco! Mas melhorou da paraplegia instantaneamente...
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Por fim, a irreverente cria da casa: o João Fernandes. Quando menino, numa noite de jogo de pôquer no antigo Clube Instrução e Recreio, época em que dávamos valor desmerecido aos concursos de misses, o José Karan, médico conceituado na cidade, deu-lhe o apelido que ele carregou até os fins de seus dias: Marta Rocha. O Marta era um mocinho de dezesseis anos e trabalhava como garçon no restaurante do clube. O Karan pediu um sanduíche ou outra coisa qualquer e, ao ser servido, com as cartas na mão, olhou para o João e soltou a exclamação: Tche! Como tu és parecido com a Marta Rocha... A miss estava em alta. Recém tinha perdido o título de Miss Universo por ter duas polegadas a mais nas coxas. O apelido pegou e ele nem se importou com ele. Era a irreverência da irreverência cultivar o apelido. Rapazote, ainda, trabalhou de secretário do Doutor Aimone Carriconde. Distanciaram-se por questões políticas. O Marta bebeu desmedidamente até morrer, precocemente, com trinta e cinco anos... Era inteligente. Tinha memória fotográfica. Uma vez o Getúlio Dias escreveu um poema, na mesa do Bar do Élvio, e o João passou os olhos por cima dele. Em seguida, quando pediram para o Getúlio ler o que escrevera - parece que era um soneto -, o Marta disse: Quié isso Getúlio... Isso fui eu que fiz... Tu me roubaste um poema? E recitou-o inteirinho, a título de molecagem, deixando o poeta num papel de impostor. E boquiaberto pelo plágio. Discursos políticos, então, dava gosto escutar um comício junto ao Marta. Orador que ela já tivesse escutado em comício anterior, ele dizia antes do político as palavras que sairiam da boca deles...
Deixando de lado os irreverentes da literatura, por serem ficções, guardo lembrança de quatro que foram de carne e osso: O Doutor Chico, o Zé Amaro e o Paulo Brasil do Amaral, todos de Pelotas e, daqui, o João Fernandes, por apelido Marta Rocha. Todos frequentadores do Café Aquarios. O Paulo foi advogado e jornalista. Freguês cativo do antigo Cherri, onde se deliciava, depois do trago, com o famoso Colchão Alemão, que era o carro-chefe da casa. Dias de chuva ele desfilava pela Quinze com uma capa preta com forro de baeta vermelha. Tirava o chapéu Prada para cumprimentar, principalmente os transeuntes femininos. Tinha verve o Paulo. Era amigo dos outros três irreverentes citados. Mas, era mais amigo, do Marta Rocha. O Paulo, quando a Rádio Nacional era o top de linha da comunicação, a rede Globo de hoje, mais famoso meio de comunicação do Rio e do Brasil, forçou uma despedida, com direito a indenização: Certa tarde, encerrando uma programação em que ele era o comunicador, despediu-se do público com uma frase super debochada: E aqui se despede o loirinho mais gostoso do Sul do Brasil... Rá, ré, ri, ró, rua!!!
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Depois, deste, falo no Zé Amaro. Filho da famosa cantora lírica Hervalense, Zola Amaro. Nas andanças pelo mundo, quando a mãe fazia suas temporadas nos grandes teatros europeus, o filho sempre a acompanhava e de cada um desses cantos do mundo trazia os seus conhecimentos. Era extraordinário quando falava. Prendia a atenção dos amigos. O Zé, não sei se poderíamos chamá-lo de rapaz divertido, ou entendido: gostava só de rapazes... Era espirituosíssimo. Pegava o pião na unha, sempre. Poderíamos, também dizer que ele era, como se diz hoje?, Bucha... Era Bucha meter com ele... Na época das ignóbeis ditaduras do Cone Sul, o Zé Amaro passava na calçada defronte ao Aquário, quando ouviu um dos gozadores do Café dar-lhe a pecha de Tupamaro - que era a marca registrada do terrorismo uruguaio. Nem pensou para revidar: Virando-se para trás, com o dedo sentenciando o gracioso que lançara o apelido, soltou sua graça: Tupamaro, não. Puto Amaro, Tá??? Outra vez, caçando na Praça Pedro Osório, naquele cantinho dos laguinhos, das carpas vermelhas, onde nasce a Butuí, foi surpreendido por uma batida policial à prostituição. Fugindo, subiu num frondoso jacarandá que até hoje existe, e tá lá de prova... O brigadiano, perdendo a paciência, àquelas alturas, brandindo um cassetete vituperava: - Se tu não desceres daí, te baixo a pau... O Zé Amaro, nas alturas respondeu: - Calma, Seu guarda! Não vê que eu sou fruta?... Espera que eu amadureça e caia... Era de morte! Dele, também, outra: Caçava ele um garoto de programa, na época chamados de michés, e acertavam o contrato verbal de prestação de serviços. Difícil se acertarem no preço!!! O bolso do Zé Amaro não tinha mais que uns trocados. Mal davam para comprar uma porção de loló. O moço estava renitente. O Zé, cargoso, soltava lábia pra cima do miché. - Tudo bem, disse o garoto. Por essa mixaria eu vou, mas só boto a cabecinha... Mais que isso só vendo os pilas na mão. Senão, não... E se foram para o banheiro do Aquários... Pois, em dado momento, um cliente estouvado abre a porta, porta de banheiro, privada ou patente só abre prá dentro. Segurança é isso... Pois, como dizia, o cara abriu a porta e deu um safanão na bunda do guri. Minha Mãe de Deus!!! Ah! Se a coisa tivesse ombro, não vinha tanta gente ao mundo... O Guri afogou o ganso até a cola. O que não estava no trato... O Zé Amaro, espirituoso e correto com o garoto só teve a saída de dizer: - Tô endividado pro resto da vida!!!
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Outro irreverente impagável foi o Doutor Chico. Os pelotenses que o digam. Eles o conheceram bem. Tratava as gonorreias de estudantes da Agro e da Técnica sempre sem cobrar nada. E ainda não os deixava ir embora sem as amostras grátis de remédio. Consulta e remédio nunca faltou para guri engalicado enquanto o Doutor Chico prestou seus serviços médicos. Só tinha uma coisa. O estudante entrava pela porta, mas saía pela janela. Depois da consulta ele dizia, abrindo a janela do escritório: - Agora, pula prá calçada que eu te alcanço os remédios... E vê se te cuidas mais desses cavalos de crista, Seu Safado. E dizia com um prazer e um carinho desmedido quando tratava os guris. Quando a Aidil matou o Zé Correia, no consultório deste, nos altos do Itatiaia, ninguém ficou dentro do Aquário. Todo mundo dando fé dali da calçada do Café. Com os populares assistia à movimentação policial o Doutor Chico. Depois, de tudo dado fé, dirigiu-se para o seu consultório, a poucas quadras dali, na Voluntários. Chegando, já atrasado no escritório, por força das circunstâncias, antes de atender a clientela, despejou num canto da sala de espera tudo que tinha dentro da bolsa duma cliente. No outro canto, abriu outra bolsa de mulher e despejou tudo no chão. Depois deu a desculpa: -Não me entram aqui dentro mulheres sem que eu reviste as bolsas... Vocês tão matando os homens...O Doutor Chico era daqueles médicos de família. Coisa rara hoje em dia. Sabia curar, também! A uma cliente muito idosa que ele tratava desde a sua formatura como médico, ele curou um reumatismo e paraplegia só com susto. Que nem soluço: A idosa, chamou o Doutor Chico em sua residência. Entrevada que estava, há dias, cheia de dores reumáticas... Não deu outra. Ele entrou no quarto da velhinha, fechou a porta, deu uma volta na chave. Ela só olhando... O Doutor aprochegou-se de uma cadeira à beira da cama. Sentou e tirou os sapatos. Ato contínuo, levantou as cobertas e vapt! Se tapou... A doente, mesmo com o ossamento carcomido saltou da cama e deitou o cabelo em direção à porta. Cruz! Credo! Que louco! Mas melhorou da paraplegia instantaneamente...
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Por fim, a irreverente cria da casa: o João Fernandes. Quando menino, numa noite de jogo de pôquer no antigo Clube Instrução e Recreio, época em que dávamos valor desmerecido aos concursos de misses, o José Karan, médico conceituado na cidade, deu-lhe o apelido que ele carregou até os fins de seus dias: Marta Rocha. O Marta era um mocinho de dezesseis anos e trabalhava como garçon no restaurante do clube. O Karan pediu um sanduíche ou outra coisa qualquer e, ao ser servido, com as cartas na mão, olhou para o João e soltou a exclamação: Tche! Como tu és parecido com a Marta Rocha... A miss estava em alta. Recém tinha perdido o título de Miss Universo por ter duas polegadas a mais nas coxas. O apelido pegou e ele nem se importou com ele. Era a irreverência da irreverência cultivar o apelido. Rapazote, ainda, trabalhou de secretário do Doutor Aimone Carriconde. Distanciaram-se por questões políticas. O Marta bebeu desmedidamente até morrer, precocemente, com trinta e cinco anos... Era inteligente. Tinha memória fotográfica. Uma vez o Getúlio Dias escreveu um poema, na mesa do Bar do Élvio, e o João passou os olhos por cima dele. Em seguida, quando pediram para o Getúlio ler o que escrevera - parece que era um soneto -, o Marta disse: Quié isso Getúlio... Isso fui eu que fiz... Tu me roubaste um poema? E recitou-o inteirinho, a título de molecagem, deixando o poeta num papel de impostor. E boquiaberto pelo plágio. Discursos políticos, então, dava gosto escutar um comício junto ao Marta. Orador que ela já tivesse escutado em comício anterior, ele dizia antes do político as palavras que sairiam da boca deles...
quinta-feira, 3 de novembro de 2011
Fragmentos de uma correspondência amorosa
Vamos dar ao amigo o nome de Semildo, ou “S”, simplesmente. Ao menos não conheço ninguém com esse nome o que já é uma grande chance de não ter uma futura dor de cabeça. Já que estou tatuado de tanto que me cascotearam nesta terra do Irineuzinho – merecido fruto desta minha incorrigível irreverência. Pois, quando S. se apaixonou pela L., a Lúcia, a maravilhosa Lúcia, daquelas eras, lá da vizinhança da Voz Rural, ou Voz do Pau, como eram conhecidos os alto-falantes que tinham seu endereço na saudosa Sete Portas, nós fomos testemunhas do seu calvário. Tudo começou numa quermesse dos quartanistas do Ginásio, lá no Depósito do Engenho do Seu Daciano. Primeiro, S. mandou prender L. na cadeia que ficava ao lado do bar. Ali, ora levando as mãos ao rosto, ora pondo as mãos na cintura, com toda aquela vaidade peculiar à sua adolescência, a L, curiosa, queria saber qual o admirador que lhe pregara aquela peça. Logo, logo, a própria carcereira, quando a soltava das grades, levou-lhe um telegrama do S. que dizia: “Vidinha. Meu eterno amor nesta noite primaveril cresce desmedidamente no meu coração. S.” Durante aquela noite foram incontáveis os telegramas que L. recebeu do seu desconhecido apaixonado. Nenhum deles conseguiu, apesar da sua curiosidade, da insistência em perguntar à mensageira quem lhe cortejava, revelar o nome do jovem apaixonado. Passaram-se os dias, as semanas, os meses, e o nosso amigo S. resolveu apelar para os amigos. Buscava ideias, luzes, caminhos que levassem seu amor, com um nome, até sua musa. Amor infinito e sufocado no anonimato... Inda mais, ter que esperar uma próxima quermesse, coisa que ninguém merecia. Foi desta forma, numa mesa do Café, sempre à hora santa da Ave-Maria, que nós, seus amigos, estudávamos uma maneira de ajudá-lo. E, neste mister, a única ideia que nos ocorria era uma bem elaborada e romântica carta que nos propusemos a redigir em socorro dele, S., o apaixonado. A princípio, para sua apreciação, listamos o que poderia ele dizer como tratamento, para o caudal das primeiras e melosas linhas: “Minha Amada!”, “Nobilíssima estudante!”, “Meu amor!”, “Meu único amor!”, “Inesquecível L.!”, “Grande amor da minha vida!”, “Vida minha!”, “Dona do meu destino!”, “Prezada jovem!”, “Meu amor e meu sonho!”, “Riqueza da minha alma!”, “Luz dos meus olhos!”, “Alegrias do meu coração!”, “Minha grande paixão!”, “Meu grande sonho!”, “Adorada L.!”, “Sacerdotisa do meu amor!”. “Minha querida!”, “L., querida!”, “Deusa minha!”, “Minha primavera!”, “Primavera do meu coração!”, “Mimosa flor!”, “Meu anjo!”, “Formosa senhorita!”, “Querida L.!”, “Carinhosa L.!”, “Meu lírio branco!”, “Felicidade minha!”, “Meu coração!”, “Querida amiguinha!”, “Único amor da minha vida!”, “Meu imenso amor!”, “Minha fada!”, “L. queridíssima!”, e por aí ía a nossa modesta contribuição. Aliás, tarefa que nos levou muitas tardes, e muitos martelinhos de vodka com bolo de carne da Maria Umbelina. Vai daí, certa tarde, S. entrando no Café, numa alegria pueril, nos deu uma boa nova: Já se decidira. Escolhera um início para a sua declaração de amor pelos alto-falantes da Voz Rural, na voz do saudoso Sérgio Chaves, desde as antigas dependências do Bar Honra e Glória, aos quatro cantos do mundo: “Atenção jovem da esquina...’! Quando penso em te escrever, não sei como começar. As emoções atropelam-se em minha alma e eu, entre mil palavras não encontro uma que traduza a festa do meu coração...” Era o amor! Era não, É, ainda. Daquela mesa de escribas do Café foi ele o único que casou com quem queria... Mais, dá gosto vê-los, de mãos dadas, diariamente, fazendo as caminhadas matinais.
Vamos dar ao amigo o nome de Semildo, ou “S”, simplesmente. Ao menos não conheço ninguém com esse nome o que já é uma grande chance de não ter uma futura dor de cabeça. Já que estou tatuado de tanto que me cascotearam nesta terra do Irineuzinho – merecido fruto desta minha incorrigível irreverência. Pois, quando S. se apaixonou pela L., a Lúcia, a maravilhosa Lúcia, daquelas eras, lá da vizinhança da Voz Rural, ou Voz do Pau, como eram conhecidos os alto-falantes que tinham seu endereço na saudosa Sete Portas, nós fomos testemunhas do seu calvário. Tudo começou numa quermesse dos quartanistas do Ginásio, lá no Depósito do Engenho do Seu Daciano. Primeiro, S. mandou prender L. na cadeia que ficava ao lado do bar. Ali, ora levando as mãos ao rosto, ora pondo as mãos na cintura, com toda aquela vaidade peculiar à sua adolescência, a L, curiosa, queria saber qual o admirador que lhe pregara aquela peça. Logo, logo, a própria carcereira, quando a soltava das grades, levou-lhe um telegrama do S. que dizia: “Vidinha. Meu eterno amor nesta noite primaveril cresce desmedidamente no meu coração. S.” Durante aquela noite foram incontáveis os telegramas que L. recebeu do seu desconhecido apaixonado. Nenhum deles conseguiu, apesar da sua curiosidade, da insistência em perguntar à mensageira quem lhe cortejava, revelar o nome do jovem apaixonado. Passaram-se os dias, as semanas, os meses, e o nosso amigo S. resolveu apelar para os amigos. Buscava ideias, luzes, caminhos que levassem seu amor, com um nome, até sua musa. Amor infinito e sufocado no anonimato... Inda mais, ter que esperar uma próxima quermesse, coisa que ninguém merecia. Foi desta forma, numa mesa do Café, sempre à hora santa da Ave-Maria, que nós, seus amigos, estudávamos uma maneira de ajudá-lo. E, neste mister, a única ideia que nos ocorria era uma bem elaborada e romântica carta que nos propusemos a redigir em socorro dele, S., o apaixonado. A princípio, para sua apreciação, listamos o que poderia ele dizer como tratamento, para o caudal das primeiras e melosas linhas: “Minha Amada!”, “Nobilíssima estudante!”, “Meu amor!”, “Meu único amor!”, “Inesquecível L.!”, “Grande amor da minha vida!”, “Vida minha!”, “Dona do meu destino!”, “Prezada jovem!”, “Meu amor e meu sonho!”, “Riqueza da minha alma!”, “Luz dos meus olhos!”, “Alegrias do meu coração!”, “Minha grande paixão!”, “Meu grande sonho!”, “Adorada L.!”, “Sacerdotisa do meu amor!”. “Minha querida!”, “L., querida!”, “Deusa minha!”, “Minha primavera!”, “Primavera do meu coração!”, “Mimosa flor!”, “Meu anjo!”, “Formosa senhorita!”, “Querida L.!”, “Carinhosa L.!”, “Meu lírio branco!”, “Felicidade minha!”, “Meu coração!”, “Querida amiguinha!”, “Único amor da minha vida!”, “Meu imenso amor!”, “Minha fada!”, “L. queridíssima!”, e por aí ía a nossa modesta contribuição. Aliás, tarefa que nos levou muitas tardes, e muitos martelinhos de vodka com bolo de carne da Maria Umbelina. Vai daí, certa tarde, S. entrando no Café, numa alegria pueril, nos deu uma boa nova: Já se decidira. Escolhera um início para a sua declaração de amor pelos alto-falantes da Voz Rural, na voz do saudoso Sérgio Chaves, desde as antigas dependências do Bar Honra e Glória, aos quatro cantos do mundo: “Atenção jovem da esquina...’! Quando penso em te escrever, não sei como começar. As emoções atropelam-se em minha alma e eu, entre mil palavras não encontro uma que traduza a festa do meu coração...” Era o amor! Era não, É, ainda. Daquela mesa de escribas do Café foi ele o único que casou com quem queria... Mais, dá gosto vê-los, de mãos dadas, diariamente, fazendo as caminhadas matinais.
quarta-feira, 2 de novembro de 2011
terça-feira, 25 de outubro de 2011
Caro Juninho
Creio que a mensagem recebida pelo nosso amigo, ontem, em que dizes ser ele incomparável, tem sua gênese numa janta no segundo piso do Clube do Comércio. Sentei à mesa contigo e a Verônica. Vocês, lembro bem, ficaram de costas para as mesas onde colocariam o buffett. Lá pelas tantas, eu, de lado, apreciava a chegada dos acepipes que estavam sendo postos à mesa. Já o nosso incomparável amigo J.A., para seu deleite, estava de cara com uma incalculável quantidade de travessas, pratos, e tinha chegado a hora de nos servirmos daquele verdadeiro banquete. Lembras? Foi aí que começou a bobagem: Não lembro qual de nós começou a série de adjetivos que aplicávamos ao amigo. Depois eu prometi que aumentaria a série. Pois bem, além de incomparável, creio que ele era também afável, amável, incurável, indomável, durável, louvável, inegável, notável; e, de certa forma, pecável, embora nunca palpável, visto que a ocasião não se apresentava viável. Provável, até, penetrável, não no momento já que este, como já disse, era altamente sociável. À mesa, depois, constatamos que o amigo não era vegetável pela forma como atacou o churrasco e o assado de leitão. Mas, foi considerável a sua performance: insaciável, potável, inabalável, impecável e indomável; indecifrável, deleitável, incalculável, inatacável e como se constatou, um gourmand apreciável, ademais de incobrável. Creio não estar exagerando ao traçar um perfil tão saudável de um amigo não menos inimaginável e inexorável... Respeitável e incontestável prócer citadino: inseparável, irrecusável, recomendável, responsável, inesgotável, inevitável, sempre presenciável, suportável, disciplinável, venerável e de todo adorável. Poderíamos, já que achas ele imaterial, acrescentar outros atributos sem nos afastarmos dos sufixos que tão bem se prestam para cobrir figura tão indispensável. Dizer que ele é indomável, seria pouco. Não resta dúvida termos como amigo um cidadão namorável, pelo que elas dizem... Inescrutável, também. Irremediável, irrecusável, memorável, ponderável, inalcançável, estimável, tolerável, consolável, insuperável, inseparável (ao mesmo tempo beatificável com cara de separável – ele tem hora para chegar em casa, etc... E tal...), ponderável, perdurável, observável, razoável, indeletatável (aqui um neologismo), insondável, invariável e incomensurável. Vimos, depois, após os birinaites, que ele se mostrou quase inflamável. Impagável como disseste. Indeclinável, de estômago às raias do interminável e impermeável e inacabável e insaciável. Inconsolável, quando já não cabia mais nada no seu memorável ser. Mas, se isto fosse tudo, seria pouco, pois, o imaterial e agradável amigo não deixa de ser, ainda, apreciável e formidável quando nos brinda com a sua companhia. Será ele instável, mudável, implacável, inimitável, inexplicável por ser imaterial? Ou será ele investigável, invulnerável, inalterável por ser violável. Pô, Juninho, realmente o J.A. é imensurável... Isso, sem qualifica-lo, no nosso jargão profissional, como um grande amigo impenhorável, inalienável, mas comunicável... Abraço incomensurável do simploriável Arnóbio.
Creio que a mensagem recebida pelo nosso amigo, ontem, em que dizes ser ele incomparável, tem sua gênese numa janta no segundo piso do Clube do Comércio. Sentei à mesa contigo e a Verônica. Vocês, lembro bem, ficaram de costas para as mesas onde colocariam o buffett. Lá pelas tantas, eu, de lado, apreciava a chegada dos acepipes que estavam sendo postos à mesa. Já o nosso incomparável amigo J.A., para seu deleite, estava de cara com uma incalculável quantidade de travessas, pratos, e tinha chegado a hora de nos servirmos daquele verdadeiro banquete. Lembras? Foi aí que começou a bobagem: Não lembro qual de nós começou a série de adjetivos que aplicávamos ao amigo. Depois eu prometi que aumentaria a série. Pois bem, além de incomparável, creio que ele era também afável, amável, incurável, indomável, durável, louvável, inegável, notável; e, de certa forma, pecável, embora nunca palpável, visto que a ocasião não se apresentava viável. Provável, até, penetrável, não no momento já que este, como já disse, era altamente sociável. À mesa, depois, constatamos que o amigo não era vegetável pela forma como atacou o churrasco e o assado de leitão. Mas, foi considerável a sua performance: insaciável, potável, inabalável, impecável e indomável; indecifrável, deleitável, incalculável, inatacável e como se constatou, um gourmand apreciável, ademais de incobrável. Creio não estar exagerando ao traçar um perfil tão saudável de um amigo não menos inimaginável e inexorável... Respeitável e incontestável prócer citadino: inseparável, irrecusável, recomendável, responsável, inesgotável, inevitável, sempre presenciável, suportável, disciplinável, venerável e de todo adorável. Poderíamos, já que achas ele imaterial, acrescentar outros atributos sem nos afastarmos dos sufixos que tão bem se prestam para cobrir figura tão indispensável. Dizer que ele é indomável, seria pouco. Não resta dúvida termos como amigo um cidadão namorável, pelo que elas dizem... Inescrutável, também. Irremediável, irrecusável, memorável, ponderável, inalcançável, estimável, tolerável, consolável, insuperável, inseparável (ao mesmo tempo beatificável com cara de separável – ele tem hora para chegar em casa, etc... E tal...), ponderável, perdurável, observável, razoável, indeletatável (aqui um neologismo), insondável, invariável e incomensurável. Vimos, depois, após os birinaites, que ele se mostrou quase inflamável. Impagável como disseste. Indeclinável, de estômago às raias do interminável e impermeável e inacabável e insaciável. Inconsolável, quando já não cabia mais nada no seu memorável ser. Mas, se isto fosse tudo, seria pouco, pois, o imaterial e agradável amigo não deixa de ser, ainda, apreciável e formidável quando nos brinda com a sua companhia. Será ele instável, mudável, implacável, inimitável, inexplicável por ser imaterial? Ou será ele investigável, invulnerável, inalterável por ser violável. Pô, Juninho, realmente o J.A. é imensurável... Isso, sem qualifica-lo, no nosso jargão profissional, como um grande amigo impenhorável, inalienável, mas comunicável... Abraço incomensurável do simploriável Arnóbio.
segunda-feira, 24 de outubro de 2011
Os Cafés
Para o Juca Ramos da Silveira
Por aqui eles se chamaram por vários nomes de fantasia: Café do Ticató, Marrocos, Capri, Café do Sadi, Central, Atlântida, apenas para consignar algumas designações. Foram famosos os do Manoel Português, de nome Marrocos e o do Tritri, cujo nome não me vem à memória. Sei, de me contarem, evidentemente, que o prédio onde todos eles funcionaram teve existência graças ao Dr. Hélio Mariante, abastado pecuarista, figura apaixonada pela nossa terra, pelas nossas coisas e pelo cotidiano da cidade. Foi numa gestão dele como presidente da Sociedade Rural que nasceu a ideia de construir um prédio de dois pisos: no segundo andar a Sociedade Rural e, no térreo, um grande salão próprio para comércio. Mesas com tampo de mármore, um vasto balcão e, segundo a lenda, ao ecônomo do Café, o aluguel era simbólico: resumia-se a conservar o prédio, apenas. Não, apenas, não. Havia como trato de honra uma incumbência: nada de ir perguntar a um frequentador que sentasse a uma mesa se ele precisava de alguma coisa. Havia garçom para observar os sinais de pedidos de cafezinhos, ou outra bebida qualquer. Em resumo, frequentador assíduo podia sentar e o ecônomo ou o garçom estavam dispensados da célebre pergunta: - O que o senhor vai querer? Sentar às mesas era apenas para conversar e trocar ideias. Discutir turfe, futebol, política, ou qualquer coisa, ou nada. Chegar, sentar, e ali ficar a divagar sem ser importunado para que gastasse. Sentar e ficar ali (se quisesse), o dia todo, da manhã à noite. Belo gesto o do Doutor Hélio! Beneficiando a todos fizera um Café praticamente á sua custa, para o seu deleite e o das pessoas que ele gostava de ver desfilar pelas mesas. Bela figura o Doutor Hélio: secarrão, pouca conversa, eternamente pensativo... Transparecia ser a figura mais cheia do mundo. Aparência, apenas. Por dentro um cidadão bom de papo, fino trato, um gozador entre tantos a frequentar diariamente o convívio daquelas mesas. Moços, nós, tínhamos um respeito reverencial pelo Doutor Hélio. Já um colega que era mal educado, arrastava propositalmente a cadeira ao sentar-se, se pudesse arrotava alto e, alto, também, soltava traques. Pedíamos que ele não se comportasse desse jeito. Que ele respeitasse os frequentadores, principalmente quando estivesse presente o Doutor Hélio. Isto, entrava dia e saía dia, o colega repetia seus maus costumes sem dar-nos ouvidos. Mas, quis o destino, certa feita, que este colega montasse um escritório rural para remates de gado em geral. Instalado o escritório, que faz história até os dias atuais, buscava o nosso amigo e novo comerciante por clientes nos anúncios publicitários, no tête-a tête, nas boas recomendações dos pecuaristas locais. Enfim, sonhava com o sucesso de sua empreitada enquanto nós, seus amigos, ficávamos na torcida também. Num belo dia, estávamos à mesa do Café quando, recém chegando o nosso amigo, antes de vir sentar-se conosco, ouvimos o Doutor Hélio dirigir-se a ele: - Guri! Vem aqui... De pronto pensamos nalgum sermão, pelos seus maus modos – o que ele bem merecia... Nada disso: – Olha - disse o Doutor Hélio -, quando fizeres a primeira feira, vem falar comigo que eu vou vender uns bois no teu escritório. E, rematou: - Não negocio gado em feiras que não seja com gente daqui... É tapa com luvas, que se diz?
Para o Juca Ramos da Silveira
Por aqui eles se chamaram por vários nomes de fantasia: Café do Ticató, Marrocos, Capri, Café do Sadi, Central, Atlântida, apenas para consignar algumas designações. Foram famosos os do Manoel Português, de nome Marrocos e o do Tritri, cujo nome não me vem à memória. Sei, de me contarem, evidentemente, que o prédio onde todos eles funcionaram teve existência graças ao Dr. Hélio Mariante, abastado pecuarista, figura apaixonada pela nossa terra, pelas nossas coisas e pelo cotidiano da cidade. Foi numa gestão dele como presidente da Sociedade Rural que nasceu a ideia de construir um prédio de dois pisos: no segundo andar a Sociedade Rural e, no térreo, um grande salão próprio para comércio. Mesas com tampo de mármore, um vasto balcão e, segundo a lenda, ao ecônomo do Café, o aluguel era simbólico: resumia-se a conservar o prédio, apenas. Não, apenas, não. Havia como trato de honra uma incumbência: nada de ir perguntar a um frequentador que sentasse a uma mesa se ele precisava de alguma coisa. Havia garçom para observar os sinais de pedidos de cafezinhos, ou outra bebida qualquer. Em resumo, frequentador assíduo podia sentar e o ecônomo ou o garçom estavam dispensados da célebre pergunta: - O que o senhor vai querer? Sentar às mesas era apenas para conversar e trocar ideias. Discutir turfe, futebol, política, ou qualquer coisa, ou nada. Chegar, sentar, e ali ficar a divagar sem ser importunado para que gastasse. Sentar e ficar ali (se quisesse), o dia todo, da manhã à noite. Belo gesto o do Doutor Hélio! Beneficiando a todos fizera um Café praticamente á sua custa, para o seu deleite e o das pessoas que ele gostava de ver desfilar pelas mesas. Bela figura o Doutor Hélio: secarrão, pouca conversa, eternamente pensativo... Transparecia ser a figura mais cheia do mundo. Aparência, apenas. Por dentro um cidadão bom de papo, fino trato, um gozador entre tantos a frequentar diariamente o convívio daquelas mesas. Moços, nós, tínhamos um respeito reverencial pelo Doutor Hélio. Já um colega que era mal educado, arrastava propositalmente a cadeira ao sentar-se, se pudesse arrotava alto e, alto, também, soltava traques. Pedíamos que ele não se comportasse desse jeito. Que ele respeitasse os frequentadores, principalmente quando estivesse presente o Doutor Hélio. Isto, entrava dia e saía dia, o colega repetia seus maus costumes sem dar-nos ouvidos. Mas, quis o destino, certa feita, que este colega montasse um escritório rural para remates de gado em geral. Instalado o escritório, que faz história até os dias atuais, buscava o nosso amigo e novo comerciante por clientes nos anúncios publicitários, no tête-a tête, nas boas recomendações dos pecuaristas locais. Enfim, sonhava com o sucesso de sua empreitada enquanto nós, seus amigos, ficávamos na torcida também. Num belo dia, estávamos à mesa do Café quando, recém chegando o nosso amigo, antes de vir sentar-se conosco, ouvimos o Doutor Hélio dirigir-se a ele: - Guri! Vem aqui... De pronto pensamos nalgum sermão, pelos seus maus modos – o que ele bem merecia... Nada disso: – Olha - disse o Doutor Hélio -, quando fizeres a primeira feira, vem falar comigo que eu vou vender uns bois no teu escritório. E, rematou: - Não negocio gado em feiras que não seja com gente daqui... É tapa com luvas, que se diz?
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