Al Di Lá

Você se lembra do filme Candelabro Italiano?

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Caro Amigo








Foi sempre com muita atenção que ouvíamos os mais velhos discorrerem sobre velhos assuntos como o desaparecimento do absinto, do rapé, do rum creosotado, dos corsos de carnaval, da 914, do a saúde da mulher, dos aguateiros e nem por isso nos melindrávamos. Os que vieram bem antes de nós contavam histórias em que os veículos se limitavam aos faetons, aos Modelo-T, aos dirigíveis e apreciávamos ouvir que existiram tais velharias. Agora, caro amigo, a ninguém deveria cair mal saber que já foi de brisque andar pelas ruas da cidade a correr numa Lambretta, numa Vespa, numa Java, numa Douglas, só para ficar nas vovozinhas da Bizz, ou passear num Sinca Chambord ou num Gordini quando eles eram o it na metade do século passado. Sabes? Antes, quando ainda estavas na Bolívia, a gente tirava retrato, usava espelhinho no bolso traseiro da calça far-West, pente de osso no bolso da volta ao mundo, usava guides, ia ao cinema ou a uma brincadeira. Às vezes, também se ía aos bailes do Beca, do Doca ou do Chico Barros. Se chovesse, colocávamos galochas para não embarrar o calçado. Na noite, tomávamos Fogo Paulista puro, ou misturado com Crush, Guaraci ou 17. Não chegamos a nos afeitar com navalhas, claro, já havia lâminas, mas, no cabelo usávamos Glostora, Gumex, e, antes de inventarem o Stilleto, primeiro, havia o Amor Gaúcho, depois, mais modernamente, o Toque de Amor da Avon para passearmos cheirosos. Fumávamos Belmonte, Elmo, Continental e apreciávamos comida feita com camarão seco e café com açucar mascavo. Para a fraqueza tínhamos o Wa-Ka-Mo-To e o Elixir de Scott; para mal-estar o Alka Seltzer. Íamos a presépios-vivos, usávamos conga e, por pura exibição, piteiras quando o cigarro ainda não vinha com filtro. Pois é, foi assim que assistimos chegar na cidade a primeira televisão trazida pelo seu Mércio, ouvimos o primeiro rádio da faixa cidadão do seu Otavio, vimos o Marcos Prestes montar o primeiro computador e o João Saraiva nos apresentar a um telescópio. Põe paciência no que lês, meu caro. E não te queixes das velharias que escrevo, pois, pior, foi vivê-las vendo este teu maravilhoso mundo de hoje.

Um comentário:

Anônimo disse...

É uma leitura prazerosa dos tempos de andar de calça curta. Jamais iremos deixar de gostar e saborear esses águas de saudasismo que você passa no blog. Parabéns...Arnobio.

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