Al Di Lá

Você se lembra do filme Candelabro Italiano?

quinta-feira, 19 de junho de 2008

CAFÉ CAPRI

Anos sessenta. Estávamos reunidos numa mesa ao canto, com o janelão à nossa frente, numa roda de cafezinhos e martelos. À espera, claro, dos bolinhos de carne da Maria da Currucha que o Dé trazia, costumeiramente, ainda bem quentinhos, aos fins da tarde. No balcão não estava nem o Tritri, nem o Aldi para atender-nos. Apenas o proprietário, o Seu Ciro, a olhar para a nossa mesa com um olhar perdido. Nada falava, nem nada perguntava. Nós, também em flirt, nada solicitávamos embora precisássemos de um pequeno abastecimento de água ardente. Foi quando surgiu uma idéia: Vamos fazer um requerimento pedindo mais outro martelinho? E, nele, dando ao Seu Ciro um largo tempo para nos servir? Dito. Feito. Com o escritório bem pertinho do Café, em minutos o documento foi elaborado e protocolado no balcão: Ilmo. Sr. Ciro.... Nós (Sérgio Canhada, Marta Rocha, Renato Müller, e Outros), vimos pelo presente, respeitosamente, perante Vossa Senhoria, requerer, dentro das próximas quarenta e oito horas, se não for incômodo, seja trazido até nossa mesa mais um martelinho. Pedem atendimento, Arroio Grande, etc... À medida que lia o velho foi perdendo a cor e, brabo, deixando o papel em cima do balcão, saiu para os fundos do salão. Para a nossa cabeça estava a porqueira feita... Voltaria armado para uma briga? Era esperar para ver no que daria a picardia. Minutos depois, quando voltou, para a nossa surpresa, trazia um copinho que encheu com a branquinha. Depois, vindo em direção à nossa mesa, antes de colocar o martelinho sobre ela - e olhando, justamente para mim -, lascou: Isso só pode ser coisa tua!... Mais outra doma ali no Café?... Bem, aquela tinha passado! Mas, aconteceram outras passagens, inúmeras... Como a da noite em que tinha baile no Doca e o Aldi estava de atendente. O Macksoud, sabendo que o Arnaldo se dirigia para o Café, sem um tostão no bolso, avisou-nos - os mesmos de sempre -, da molecagem: atara numa nota de dinheiro, à época de importância considerável, um fio de náilon, quase invisível de fininho. Abrira uma fresta nas portas internas do balcão que tinha vidro na sua frente e, dali, observaria a nota de dinheiro no chão de jeito a pescá-la antes de ser agarrada e acabar em prejuízo a brincadeira. Não deu outra. O Pila chega, avista a nota no chão, espertamente segura no osso do peito, e pede um cafezinho. Em seguida, disfarçando ajeitar a meia, faz a primeira tentativa. Dali donde fresteava o desfecho o sacana, vendo a mão do outro aproximar-se da nota, dá uma puxadinha no fio e coloca-a mais para baixo do balcão. Mais um trago no cafezinho e o Pila dá a segunda investida: Disfarça para arrumar a outra meia e passa a mão no chão. De novo, não vem com nada... O bandido, lá do outro lado do balcão, tinha dado mais um puxãozinho para dificultar a manobra. Resultado: Não demorou muito e o coitado, noutra tentativa desesperada, tendo perdido toda a noção do ridículo, estava, de terno e gravata, como viera vestido, deitado no chão, agora, com todo o braço embaixo do balcão, procurando a nota que salvaria o seu baile no Doca. Não lembro quem não agüentou, e riu. Mas, não esqueci a cena. Ofendido, o Arnaldo foi para a porta do Café. De lá, brabo, numa sujeira lamentável, bradava: Aqui não tem homem... Se tiver que saia que ele vai aprender a não fazer gracinhas... Filhos disto, filhos daquilo, e mais uma centena de frases impublicáveis. Saiu alguém? Não saiu ninguém. Que ninguém era bobo, mesmo. Éramos só moleques e tínhamos acertado outra.

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