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sábado, 21 de março de 2009

Cartas/crônicas Incompletas sobre a Rua Doutor Dionísio de Magalhães para o João Antônio Garcia, o Jotagê.


(Primeira carta)
João Antônio.
Tua última crônica publicada no jornal A EVOLUÇÃO, foi de uma felicidade incrível, teve a virtude de mexer com a nossa lembrança, deixou bem a mostra que o cordão umbilical que te liga à nossa Terra nunca vai ser cortado. De há muito tu vens escrevendo sobre este tema/saudade e já há bom tempo vens me toureando para que eu também escreva sobre ele. Escrever sobre o tempo da meninice, da adolescência vivida nesta província. Agora, me rendo, não tem como um vivente não entregar os pontos. Há muita coisa para se registrar, se contar... Às vezes, quantas vezes, eu faço as mesmas viagens que tu fazes pela nossa cidade... Pois bem, vamos escolher uma rua, vamos? Pode ser a tua. Quantas coisas antigas na tua antiga rua. Quantas coisas a lembrar num simples passeio que poderia começar na barbearia do Seu Berto e terminar na venda do Dinarte, na Bica, na Fábrica de Café do Didivo, naquele finzinho de rua. Quanta coisa entre estes dois pontos... A meio caminho, a Sete Portas e nela, latejando como um coração, o bar Honra e Glória do Irani, cheinho de chinas (a Negra Maurícia, a Maria Vaca, a Nair Gaveta, a Helena Peluda). Defronte, o Cabaré da Marina, o antigo, o que não nos foi possível conhecer as entranhas, pequenos que éramos. O Bar Meu Cantinho do Alicate e a correspondência e a cumplicidade destes lugares com a Casa de Cômodos do Zé Cavallieri. O Bar da Iracema do Tuca, a barbearia do Couto. A casa do Marta Rocha, sempre sozinha, até hoje sozinha naquela esquina, lembras? E os gansos da Dona Margarida? A Venda do Nestor - um centro comercial - que não sabíamos que existiria um dia, só na nossa imaginação. A casa do Wilson Feijó, o Hotel do Chico Bonneau, residência do Alvim Caminhão. A casa da Dona Coca, a carpintaria do Lauro Surdo, defronte à Casa Alfredo. A casa da Lina, a casa do Seu Paulino e a barbearia do Seu Nito e a venda do Carlos Barulho e a alfaiataria do Seu Hugo e a Voz dos Pampas. A Delegacia de Polícia (o Delegado Herculano), depois Padaria do Fioravante; O Posto de Saúde naquela esquina confronte à casa do Seu Donário, depois do Albino Peter. A Usina, principalmente o pátio da Usina, defronte ao Correio. O Café do Deca, o escritório do Antônio Silva, o Bazar da Dona Negra e a sede do jornal. A Oficina do Antenor e o Posto de gasolina na esquina do Aldírio, teus vizinhos mais próximos. Ah, João Antônio, quanta coisa num pedacinho de rua, na rua da Oficina do Valentim (ou da Loja do Rocco?). Um dia ainda escrevo sobre isto... Um abração, Arnóbio. (cont.)

Segunda Carta
João Antônio.
Escrever sobre a tua Rua foi mexer em vespeiro. Pensava ter esgotado o assunto. Pensava. De certeza a onça da saudade foi cutucada com vara curta. Não haveria de ser a tua Rua apenas uma rua. Tua Rua é um mundo. Um mundo que espera venhas, sempre mais uma vez, para compartilhar, com os mesmos de sempre, a sempre renovada nostalgia. João, tem o tempo em que havia uma oficina de consertos que pertenceu ao cidadão João Jacinto Garcia (teu avô?), lugar onde foi o Armazém Pacífico, defronte à horta do Irani. A venda de Secos e Molhados do velho Martim Sapo, que ficava a menos de cinqüenta passos, em diagonal, da Casa do Pedro Costa, pai do Nero e defronte a tua. O armazém do Horácio, esquina com a Praça, onde chegou a funcionar uma forte casa comercial do Izidro Peres (neste lugar também existiu o restaurante do Otacílio Bichão). Perto, ao lado, o Bazar Arroiograndense e o consultório do Doutor Falcão. A relojoaria do Seu Cesário, irmão da Dona Nita do Zecão Carneiro, ao lado da casa do Gu. O engenho do Seu Davi Costa com aquela chaminé imensa, que até hoje existe e que tocou milhares de ave-marias do Gounod (através dos alto-falantes do Ganso). Todos, ou quase todos, lugares que foram íntimos dos nossos pais, que eu estava deixando, pois, para listá-los numa outra oportunidade, quando voltaria a falar sobre a tua Rua de mais antigamente. Mas, é imperdoável ter esquecido a Padaria do pai do Dandão, no lugar onde funcionou a Loja do Turco Issa; a venda do Branquinho, lá naquela lonjura; a venda do Jaime Rodrigues, penúltima casa da rua (o caixeiro era o Mauro do Cazuza). A última casa da rua, então, era a Padaria Punta del Este, do Efrain, pai do Corvo. Ainda agora a saudade, que é grande, vai me jogando, aos trancos, para novos achados de antigamente: A Churrascaria do Adão da Cizica, vizinha ao Hotel Regente do Vilmar Hackbart. A Voz Rural, com o Sérgio do Venâncio de locutor, e a sapataria do Amândio, pai da Praxedes, defronte àquela pequena pensão familiar onde morou o Laudelino Três Bolas (se não me falha a memória ele era o gerente, no tempo do Gringo da rodoviária). Que mais? O Bar Só Vai, a Pensão da Noêmia do Deca, o Posto Ipiranga defronte à Praça e uma Padaria que foi do Neri Canhada, na esquina da rua do Vinte. Quanta coisa ficou para trás, ainda; quanta coisa faltando para completar esta pequena memória sobre a tua Rua. E sobre as pessoas da tua Rua? (diz o Nelsinho que é a rua que mais tem ou teve músicos, será?). Vem rolo!!! Um abração. Arnóbio. (cont.)

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