Al Di Lá

Você se lembra do filme Candelabro Italiano?

sábado, 13 de março de 2010

A Tatuagem

Corriam céleres os últimos dias do século passado quando o destino, inexorável, afastara da cidade, a fim de atender a uma das trinta e tantas comarcas, nas quais atua nestas paragens da metade sul, um célebre jurisconsulto e tribuno local (inclusive, em passant, seria injustiça deixar de consignar, ser também o colega, colunista de uma acaciana coluna científico-jurídica de um hebdomadário local). E, vindo a calhar, dois de seus clientes, guaxos com a ausência do patrono, e notificados para prestar esclarecimentos na depê local, deram com os costados em nossos escritórios. E lá estávamos... O Plínio com um; eu com o outro; Deus com todos... O meu novo cliente: Pai Tanajara do famoso terreiro Reino de XAPANÃ, de quem me tornei amigo de todas as suas horas de precisão e das minhas de distração. O outro, o novo cliente do Plínio, já não mais Filho de Santo, agora, ex-discípulo disciplinado e Pomba Gira em ascensão das mais respeitadas em temas de heranças, operações astrais e, como diziam à boca pequena, prestava assistência a colegas advogados (não interessando no momento especular os motivos dessas assistências, porém, é de bom alvitre esclarecer serem os nossos clientes duas das mais concorridas, famosas e conceituadas das catorze pombas giras do município e arredores)... Pois, numa sala prestava depoimento o meu cliente e, na outra, contígua, o cliente do Plínio. Era este cliente que ditava para o boletim antropológico as suas características físicas: branco, ou afro-descendente; olhos castanhos? Altura e peso; até que idade morara com os pais? Quando seu primeiro trabalho? Tinha sinais característicos? Cicatrizes? Choviam os sim, os nãos. Tatuagens? Bem, aí, começou a pretear o olho da gateada... Cheio de trejeitos paissantistas e desenrolando as bichonices comuns ao ramo, depois de muitos achos que tinha, de nãos, de achos que sim, acaba levantando a blusa e mostrando, acima do mamilo direito, a paisagem de um sol vermelho e dento dele a silhueta de uma jangada ao fundo. Bem, e aí? Então? Mais algum sinal? Tem. Não sei. Acho que tem. A marreca leva as mãos à boca, assim como quem faz que está roendo as unhas e declara: Ah! Eu tenho vergonha de mostrar... Não Vou, não vou, não vou mostrar, mas tem. O Plínio, então, intervém, delicadamente, argumentando ao seu cliente, que ele não deveria sonegar coisas que são praxe nos boletins. Porém, continuava o cliente, cheio de trejeitos, se contorcendo mais que lacraia em cinza quente, quando resolveu por fim à sessão: virou-se de costas – ai que vergonha gurizes, dizia -, baixou as calças, junto a calcinha pink, rendadinha, e deixou à mostra a tatuagem que ostentava de nádega a nádega, bem abaixo, mesmo, do cócix. Ali, em uma letra cursiva, delicadamente vazada na pele, esta jóia do grafite universal: Vem, que o cu é teu!

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