Al Di Lá

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sábado, 13 de março de 2010

Seu Olegarinho

Enjoado, mesmo, era o Olegarinho, quando tomava uns tragos - bem diferente de quando estava sóbrio. Sãozinho, ficava na porta venda, imóvel e sério, com o pensamento perdido e os olhos voltados lá para os lados do Estádio dos Caturritas, esperando a chegada dos clientes. Atendendo, atrás do balcão - parecia um autômato -, ouvia os pedidos e os despachava sem muita conversa.
Vizinhos à venda o Seu Atilaninho, por um lado, e o Zorico, da Dona Júlia, pelo outro. Defronte, a Castelhana Casemira. Destes vizinhos, merecia destaque a figura magra da Casemira, sempre renegada despejando o seu linguajar em portunhol. Ora, brigando com o Alemão, seu filho – malandro, pescador, bom goleiro e ladronaço, como la gran flauta -, ora, vituperando pelas ausências do Seu Donor, seu coronel, que não vinha de fora, não trazia leite, nem verduras, nem lenha.
Com o tempo, tendo falido o seu comércio de secos e molhados, o Olegarinho vence uma concorrência para explorar o bar da Liga Operária, onde termina seus dias como ecônomo. Lá, ele servia martelinhos de canha, sambas, cachaças com vermute e gasosas. No bar da Liga, sempre, sobre o balcão, um vidro grande cheio de ovos cozidos em salmoura e um armário de vidro com bolinhos de carne e mil-folhas feitos pela Maria da Currucha. Quando ele se cruzava nos aperitivos, enfático, propalava frases feitas, ditos espirituosos, perguntas picantes, tudo sempre consonante com a graça do momento. Tudo sem mexer os músculos do riso. Só os lábios. Mas o que saia deles... Implicava com um e com outro. O Seu Ramãozinho, freguês dos pastéis com gasosa, também era freguês dos ditos espirituosos do ecônomo.
Um dia o Olegarinho, já nas águas, dali do balcão do bar, assistia ao seu Ramãozinho bater uma mão de Pif. Não deu outra, quando o vencedor juntava as fichas ganhas no pano verde da mesa, ouviu do Olegarinho uma pergunta: O senhor é fresco, Seu Ramãozinho? Pra quê...
Mas, foi na antiga venda, quando a velha castelhana sua vizinha chegou para comprar uma caixa de fósforos, que ele aplicou uma das suas saídas mais geniais. Sem cumprimentar a antiga cliente que chegara, o Olegarinho, com os olhos baços de tanto aperitivo, pegou-a da mão e, assim num jeito à cigana, virando a palma para cima, examinando aquela pele já rugada e macilenta, lascou um diagnóstico: a senhora tá menstruada, Dona Casemira...

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