Al Di Lá

Você se lembra do filme Candelabro Italiano?

quinta-feira, 22 de maio de 2008

A Visita

Figueirinha, manhã bonita. O cordeiro mamão recém carneado esfriava enganchado na trave do galpão. O Velho Lauro fazia uma enorme fogueira de branquilho à espera da carne e o Nitinho, o aniversariante, falquejava uns espetos de pitangueira. Tinham combinado um churrasco e a canha já rolava a bom pedaço. Nisso, numa falha do valo de árvores da beira da estrada, deu pra avistar o Irani, conhecido deles e morador lá do Quilombo, montado no rosilho magro. Chegaria, como sempre, para matar a bóia. Acostumado no expediente, ele era useiro e vezeiro em dar uma passada na casa dos vizinhos, ou conhecidos, da beira da estrada, perto da hora de almoço. Então, quando tinha milharal na vizinhança, disfarçadamente, ele metia o matungo numa lavoura alheia e se chegava com as garras nas costas, com a desculpa de que o animal ficara pastando no corredor. Nesse dia, os amigos, que broma! Olharam-se no maior desânimo do mundo pela inusitada visita. O Irani, faceiro por ter enxergado fumaça, e a cachorrada brigando por uns bofes perto da mangueira, se chegava para a sombra da figueira onde se pendurava o charque. Desceria do cavalo e afrouxaria o basto, devagarinho, sem muita pressa... O Velho, amuado com a visita, não pensou duas vezes e arriscou um plano: recepcionou o Irani com dois latões de querosene, daqueles de vinte litros, dizendo: Que bom! Foi Deus quem te mandou, cara! Vamos matar a porca – e deu uma olhada em direção ao chiqueiro -, estamos precisando de ajutório... E saiu com as latas à espera do resultado. O Irani, paralisado, olhando para o chiqueiro, para a enorme porca, que não caminhava de tão gorda, pegou o peão na unha e emendou uma saída honrosa: Tchê! Cheguei só pra dar um cumprimento e apertar a cincha, tenho de chegar à cidade antes do meio-dia... O Lauro, no açudezinho, fazendo que enchia as latas de água, por cima do ombro apreciava a cena... O Irani nem chegou a ver o Nitinho e já estava na estrada... Com o rosilhinho a trote frouxo, de certeza certa, foi matar a bóia logo ali, no primeiro conhecido que tivesse milharal por perto. Eta, Figueirinha!

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