Al Di Lá

Você se lembra do filme Candelabro Italiano?

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Conto Curto

Eram três irmãos... Chico, Zé e Mário. Éramos mais chegados ao Mário por ser ele frequentador do Café. Isso quando estava na fase de euforia bipolar. Na fase depressiva ele ficava na janela de casa, bem defronte ao Clube do Comércio. Passasse quem passasse e desse seu cumprimento, o Mário nem sequer piscava um olho, não mexia a sobrancelha. Mas, quando saía da depressão... Nossa!!! Falava pelos cotovelos. Ladainha para ouvido nenhum botar defeito. Emendava períodos e mais períodos numa cantilena sem fim. Não era de muito brinquedo. Quando a coisa engrossava para o lado da molecagem ele nos dava um trancasso soltando as patas. Porém no geral era um cara doce. Quando ficava de presidente do Clube deixava a gurizada taluda entrar sem pagar as mensalidades. Era um pai... Circunstância que, inobstante a bondade, não nos impedia de sacanearmos ele: Um dia, dos de euforia, chegou no Café a cavalo. Gaúcho de gosto, mesmo: aperos de prata no pingo reluzente pelo trato do milho, rebenque com talo de prata e ouro, defeito nenhum... Desceu, soltou as rédeas no chão, deixou-o desmaneado. Da vitrine vimos a chegada dele. Entrou já pedindo um cafezinho para o Tritri. Pedi ao Canhada para fazer-lhe uma indagação qualquer que o distraísse e desse tempo de roubar o cavalo para escondê-lo no pátio da Usina Velha. Não era bola de futebol, era cavalo, mas ele deixou a coisa quicando... quicando... Era só dobrar a esquina. Era vapt-vupt e não tinha vivente que perdesse uma oportunidade tão gloriosa. Não deu outra... O ruim de ser o protagonista nessas picardias é que eu não assistia aos desfechos. As coisas nasciam com uma velocidade extrema. Havia um átimo para a realização da molecagem. E, feita, a gente tinha que desaparecer. E não passar na frente do desgraçado por dias. Precaução necessária para que as vítimas, à simples vista da gente, não lhe desse na telha a descoberta duma autoria qualquer. A cidade, por ser pequena, e não nos brindar com os entretenimentos que hoje estão por aí, nos obrigava a ser criativos, mesmo que cáusticas fossem as molecagens. Outra vez, na mesa do Café com o poeta Lauro Machado, o Canhada e o Marta, chegou o Mário que recém descera do ônibus. Dependendo da fase ele aparecia. Vinha de Pelotas. Tinha ido a filha para lá e ele seguiu-a mudando-se para outra cidade. Sem dó da Terra Natal. Sentou numa mesa ao lado da nossa e começou a cantilena dizendo que ia para o peixe... Tia Rosa, Cizica, Marina ou o que viesse... Ia só tomar um cafezinho para depois chamar o carro-de-praça do Oscar ou do Nelson. Alto e bom som dizia que não haveria de ter puta pobre... Já tinha pedido ao Tritri para guardar a malinha quando se lembrou de tirar um lenço: teria a Diva colocado um na mala? Abrindo-a, a primeira coisa que cai: um babeiro. O Beto da Heloísa era de colo, ainda. O babeiro viera no meio das roupas. O Seu Lauro olhou para nós como quem pedisse socorro: Que cena: o assunto era um e o objeto caído da mala outro. Mas bem que podiam entrar num contexto. O Seu Lauro tinha uma ruga em cada canto dos lábios: na expressão do descontentamento as rugas tomavam tristes formas, desciam para o queixo. Nas ocasiões ridículas as mesmas rugas se invertiam e subiam em direção às orelhas. Era fácil ver que ele já tinha intuído uma bobagem qualquer. Só que não seria tão logo ele a implicar com o Mário. Ele o mais velho na mesa. Sobrávamos nós... O Marta, que tinha os olhos para dizer o que pensava nos olhava... Tinha molecagem para dar e vender naquele corpo... Então, só fez uma senha e levantou-se enquanto eu, rodava o babeiro com o dedo indicador esperando a arrumação da malinha. Ía embora o Marta. Da porta, vendo o Mário juntando os últimos mijados para fechar a mala, pediu: - Seu Mário, não se esqueça de trazer o babeiro de volta. E me dê ele de presente, que eu quero usar um, também, quando for no puteiro. E deitou o cabelo...

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