Al Di Lá

Você se lembra do filme Candelabro Italiano?

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Os Irreverentes

Deixando de lado os irreverentes da literatura, por serem ficções, guardo lembrança de quatro que foram de carne e osso: O Doutor Chico, o Zé Amaro e o Paulo Brasil do Amaral, todos de Pelotas e, daqui, o João Fernandes, por apelido Marta Rocha. Todos frequentadores do Café Aquarios. O Paulo foi advogado e jornalista. Freguês cativo do antigo Cherri, onde se deliciava, depois do trago, com o famoso Colchão Alemão, que era o carro-chefe da casa. Dias de chuva ele desfilava pela Quinze com uma capa preta com forro de baeta vermelha. Tirava o chapéu Prada para cumprimentar, principalmente os transeuntes femininos. Tinha verve o Paulo. Era amigo dos outros três irreverentes citados. Mas, era mais amigo, do Marta Rocha. O Paulo, quando a Rádio Nacional era o top de linha da comunicação, a rede Globo de hoje, mais famoso meio de comunicação do Rio e do Brasil, forçou uma despedida, com direito a indenização: Certa tarde, encerrando uma programação em que ele era o comunicador, despediu-se do público com uma frase super debochada: E aqui se despede o loirinho mais gostoso do Sul do Brasil... Rá, ré, ri, ró, rua!!!

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Depois, deste, falo no Zé Amaro. Filho da famosa cantora lírica Hervalense, Zola Amaro. Nas andanças pelo mundo, quando a mãe fazia suas temporadas nos grandes teatros europeus, o filho sempre a acompanhava e de cada um desses cantos do mundo trazia os seus conhecimentos. Era extraordinário quando falava. Prendia a atenção dos amigos. O Zé, não sei se poderíamos chamá-lo de rapaz divertido, ou entendido: gostava só de rapazes... Era espirituosíssimo. Pegava o pião na unha, sempre. Poderíamos, também dizer que ele era, como se diz hoje?, Bucha... Era Bucha meter com ele... Na época das ignóbeis ditaduras do Cone Sul, o Zé Amaro passava na calçada defronte ao Aquário, quando ouviu um dos gozadores do Café dar-lhe a pecha de Tupamaro - que era a marca registrada do terrorismo uruguaio. Nem pensou para revidar: Virando-se para trás, com o dedo sentenciando o gracioso que lançara o apelido, soltou sua graça: Tupamaro, não. Puto Amaro, Tá??? Outra vez, caçando na Praça Pedro Osório, naquele cantinho dos laguinhos, das carpas vermelhas, onde nasce a Butuí, foi surpreendido por uma batida policial à prostituição. Fugindo, subiu num frondoso jacarandá que até hoje existe, e tá lá de prova... O brigadiano, perdendo a paciência, àquelas alturas, brandindo um cassetete vituperava: - Se tu não desceres daí, te baixo a pau... O Zé Amaro, nas alturas respondeu: - Calma, Seu guarda! Não vê que eu sou fruta?... Espera que eu amadureça e caia... Era de morte! Dele, também, outra: Caçava ele um garoto de programa, na época chamados de michés, e acertavam o contrato verbal de prestação de serviços. Difícil se acertarem no preço!!! O bolso do Zé Amaro não tinha mais que uns trocados. Mal davam para comprar uma porção de loló. O moço estava renitente. O Zé, cargoso, soltava lábia pra cima do miché. - Tudo bem, disse o garoto. Por essa mixaria eu vou, mas só boto a cabecinha... Mais que isso só vendo os pilas na mão. Senão, não... E se foram para o banheiro do Aquários... Pois, em dado momento, um cliente estouvado abre a porta, porta de banheiro, privada ou patente só abre prá dentro. Segurança é isso... Pois, como dizia, o cara abriu a porta e deu um safanão na bunda do guri. Minha Mãe de Deus!!! Ah! Se a coisa tivesse ombro, não vinha tanta gente ao mundo... O Guri afogou o ganso até a cola. O que não estava no trato... O Zé Amaro, espirituoso e correto com o garoto só teve a saída de dizer: - Tô endividado pro resto da vida!!!

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Outro irreverente impagável foi o Doutor Chico. Os pelotenses que o digam. Eles o conheceram bem. Tratava as gonorreias de estudantes da Agro e da Técnica sempre sem cobrar nada. E ainda não os deixava ir embora sem as amostras grátis de remédio. Consulta e remédio nunca faltou para guri engalicado enquanto o Doutor Chico prestou seus serviços médicos. Só tinha uma coisa. O estudante entrava pela porta, mas saía pela janela. Depois da consulta ele dizia, abrindo a janela do escritório: - Agora, pula prá calçada que eu te alcanço os remédios... E vê se te cuidas mais desses cavalos de crista, Seu Safado. E dizia com um prazer e um carinho desmedido quando tratava os guris. Quando a Aidil matou o Zé Correia, no consultório deste, nos altos do Itatiaia, ninguém ficou dentro do Aquário. Todo mundo dando fé dali da calçada do Café. Com os populares assistia à movimentação policial o Doutor Chico. Depois, de tudo dado fé, dirigiu-se para o seu consultório, a poucas quadras dali, na Voluntários. Chegando, já atrasado no escritório, por força das circunstâncias, antes de atender a clientela, despejou num canto da sala de espera tudo que tinha dentro da bolsa duma cliente. No outro canto, abriu outra bolsa de mulher e despejou tudo no chão. Depois deu a desculpa: -Não me entram aqui dentro mulheres sem que eu reviste as bolsas... Vocês tão matando os homens...O Doutor Chico era daqueles médicos de família. Coisa rara hoje em dia. Sabia curar, também! A uma cliente muito idosa que ele tratava desde a sua formatura como médico, ele curou um reumatismo e paraplegia só com susto. Que nem soluço: A idosa, chamou o Doutor Chico em sua residência. Entrevada que estava, há dias, cheia de dores reumáticas... Não deu outra. Ele entrou no quarto da velhinha, fechou a porta, deu uma volta na chave. Ela só olhando... O Doutor aprochegou-se de uma cadeira à beira da cama. Sentou e tirou os sapatos. Ato contínuo, levantou as cobertas e vapt! Se tapou... A doente, mesmo com o ossamento carcomido saltou da cama e deitou o cabelo em direção à porta. Cruz! Credo! Que louco! Mas melhorou da paraplegia instantaneamente...

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Por fim, a irreverente cria da casa: o João Fernandes. Quando menino, numa noite de jogo de pôquer no antigo Clube Instrução e Recreio, época em que dávamos valor desmerecido aos concursos de misses, o José Karan, médico conceituado na cidade, deu-lhe o apelido que ele carregou até os fins de seus dias: Marta Rocha. O Marta era um mocinho de dezesseis anos e trabalhava como garçon no restaurante do clube. O Karan pediu um sanduíche ou outra coisa qualquer e, ao ser servido, com as cartas na mão, olhou para o João e soltou a exclamação: Tche! Como tu és parecido com a Marta Rocha... A miss estava em alta. Recém tinha perdido o título de Miss Universo por ter duas polegadas a mais nas coxas. O apelido pegou e ele nem se importou com ele. Era a irreverência da irreverência cultivar o apelido. Rapazote, ainda, trabalhou de secretário do Doutor Aimone Carriconde. Distanciaram-se por questões políticas. O Marta bebeu desmedidamente até morrer, precocemente, com trinta e cinco anos... Era inteligente. Tinha memória fotográfica. Uma vez o Getúlio Dias escreveu um poema, na mesa do Bar do Élvio, e o João passou os olhos por cima dele. Em seguida, quando pediram para o Getúlio ler o que escrevera - parece que era um soneto -, o Marta disse: Quié isso Getúlio... Isso fui eu que fiz... Tu me roubaste um poema? E recitou-o inteirinho, a título de molecagem, deixando o poeta num papel de impostor. E boquiaberto pelo plágio. Discursos políticos, então, dava gosto escutar um comício junto ao Marta. Orador que ela já tivesse escutado em comício anterior, ele dizia antes do político as palavras que sairiam da boca deles...

Um comentário:

Carlos Ricardo Souza disse...

Bah Arnóbio, tu judias muito da gente, demoras muito para postar tuas histórias que, tomo por mim, são esperadas com uma avidez que beira a guri em primeiro dia nas china.

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