Al Di Lá

Você se lembra do filme Candelabro Italiano?

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Lautéria & Robério

O Robério e a Lautéria... Não, melhor dizendo, nós a chamávamos de Lauterinha, e a ele Robério do Toríbio. Baixinhos os dois e ela bem mais baixinha que ele. Ainda não havia sido cunhada a expressão casal vinte e eles já preenchiam, à perfeição, o requisito da soma que consagrou o seriado televisivo do dez mais dez. O Robério usava um casquete do exército, atravessado na cabeça, quase tapando um dos olhos, sempre com um cigarro feito à mão, nos três-quartos da boca de grossos beiços, grandes e redondos, com o inferior já caído pelo peso do contínuo uso do pito. Em conjunção com a tez morena e cinzenta daquele crioulo mulato, a pele ressequida da Lauterinha, índia abugrada, ajudava na formação de uma das parelhas mais perfeitas do gênero humano. Quieto, o Roberinho não era de se invocar com ninguém: a bem dizer pouco se incomodava quando a gurizada implicava com o pitoresco casal que os dois formavam. Quando muito ele virava a cabeça para fitar os zombeteiros à sua volta. Nem quando o Elias e o Cabeça disputavam a Lauterinha nos bailes do Gravatá o Robério se incomodava. Chegava dançando, mas, em seguidinha, se emborrachava e se sentava num canto do salão. Só levantava a cabeça para fazer uma senha ao Censinho, misto de garção e porteiro, para que lhe trouxesse mais vermute com cachaça, às vezes um samba. Nunca, que se tivesse conhecimento, tiveram uma moradia fixa, só deles. Viviam, sempre nas bolantas, nos ranchos de leiva e santá-fé ou num canto qualquer de galpão de granja ou estância. Ele, Inseparável da canha, trabalhava em lides campeiras onde tivesse um serviço changueiro, nunca foi dono duma carteira que registrasse o seu salário, que lhe servisse para uma futura aposentadoria. Correto, nunca discutia o valor do seu suor: trabalhava, recebia, logo gastava tudo, e, ponto final. Nunca meteu ação trabalhista contra os patrões que tivera. Tudo o que tinham cabia em duas trouxas, que cada um carregava. Quando estavam com o dinheiro na mão vinham à cidade e entravam no primeiro boteco que estivesse aberto. Seus bens ficavam atrás da porta. Um trago de canha, mortadela e bolachas, era o lugar comum na alimentação. A Lauterinha, (quem lembra?) era muito de xingar. Xingava por ela e pelo Robério. Às vezes, ela se dava ao desplante de escolher o serviço que ofereciam ao marido, quando se enquadrava a oportunidade duma changa na cidade. Ficava, a bem dizer, uma arara quando por molecagem ofereciam um serviço subalterno a ele. Quando isso ocorria, ele olhava ora para quem propunha o serviço, ora para ela, esperando um consentimento para a pegada que, diga-se, nunca era confirmada por tratar-se de pilhéria. A Lauterinha, invariavelmente, usava vestidos de chita com estampas berrantes. No cabelo, que nunca faltava a pastosidade de um óleo de mocotó, uma colinha feita com elástico. Sempre pintada. No rosto, um grosso empoado de ruge. Nos lábios finos, sem que lhes observasse a moldura, nunca faltava um batom vermelho, espalhafatoso, comprado na Loja do Pedro Fagundes onde se municiava com os vidrinhos de Amor Gaúcho, o extrato da sua preferência. À noite, se fosse uma Quarta-feira, o casal fazia uma escala no bar do Balaco antes de ir para o baile do Seu Euzébio, do outro lado da rua, de onde chegava o som da gaita do Dadinho e a a melodia da flautinha do Cabo Rosa. Dava gosto vê-los no peixe. No puteiro... Dá saudade lembrá-los!...

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