Al Di Lá

Você se lembra do filme Candelabro Italiano?

terça-feira, 4 de outubro de 2011

A Lista


No início da década de sessenta, não existia a terminologia Gay, que quer dizer divertido, descontraído, solto, na língua inglesa. Tampouco a designação bicha e afins como GLSs faziam parte do vocabulário cotidiano. Quando o rapaz tinha algum trejeito, desmunhecava, ou era muito bem arrumadinho de roupa e acessórios (sabe como é, um pullover vermelho, uma bolsinha leva-tudo, qualquer modernidade? Brinco, então, nem se fala...) já chamavam ele de veado. Pois, nesse tempo, no universo de uma cidadezinha como a nossa, a barbearia era o centro da informação, e da fofoca, naturalmente. A do Olímpio, foi famosa. Pois, quando o Idílio veio morar aqui, o Olímpio deu em implicar com ele. A implicância foi a tal grau que, dizem, o nome dele foi parar num lista de bichas, que o barbeiro confeccionara. Um dia, sabedor da relação em que constava o nome dele desabonando a masculinidade, o Idílio afrontou o Olímpio: - Como é, será verdade que meu nome está numa lista de frescos, que tu tens. Olha – sentenciou - para que tenham na cidade cento e dezoito veados eu estou, então, com três nomes. Vai lá, me mostra essa lista... O barbeiro, salta daqui, salta dali, acabou indo nos fundos do salão e dali - não sem tendo demorado um pouquinho, que desse tempo para apagar o nome do Idílio - trouxe uma lista, com trinta e poucos nomes (já naquela época) e mostrou-a, dizendo: - Está aqui, mas não fui eu que fiz, deixaram por aí e eu guardei... Os nomes eram escritos a lápis e, na verdade, o nome do Idílio não constava. Leu-a e entregou-a ao Olímpio que voltou a guardá-la lá na outra peça, nos fundos, onde estava o seu quarto e cozinha. Antes, tirou o lápis, que tinha aquela borrachinha de apagar na ponta, passou o grafite na língua, e, lá pelo meio da lista, onde tinha um vão, escreveu, novamente: IDÍLIO. Dobrou-a e guardou-a. Bem guardada...

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