Al Di Lá

Você se lembra do filme Candelabro Italiano?

sábado, 8 de outubro de 2011

Tirando de letra...

Nossa amiga, graças à grande amizade que mantemos, liberou esta história para ser contada. Sem nomes, é claro! - Coisas que só acontecem comigo... – dizia ela. Mas, vá! Já estando ela em idade provecta, mesmo assim, não pára de ganhar afilhados. Agora, que não os cria mais, eles rondam a sua casa, aparecem em busca de carinho. Às vezes se oferecem para algum serviço de varrer o pátio, ou um mandalete até o mercadinho, coisas desse tipo. Em suma, dum jeito ou de outro eles borboleteiam à sua volta. Tanto borboleteiam que, dia desses, um dos mais velhos dos seus afilhados bate à porta de sua casa em busca de um favor. Vinha aflito e a razão de seu estado estava nas frases de um bilhete escrito em folha de caderno. Chegara á casa e não encontrou viv’alma. Da mulher nem rastro... Só um inusitado bilhete cujas letras, não tendo ele aprendido a acolherar, o obrigavam a comer pela mão dos outros. E, para estes casos, ninguém melhor para ele que a sua querida madrinha. Ela lhe diria, certamente, com o maior prazer do mundo, o que estava escrito naquela folha deixada no criado mudo do quarto. Foi, pois, com esse intuito que o afilhado foi ter com sua protetora. E o bilhete, em silêncio, evidentemente, foi lido: “ – Cansei... – estava escrito. - Não agüento mais viver ao teu lado. Fui morar com aquele teu primo. Aquele que tinhas ciúmes, lembras? Ele é bem cheirosinho e delicado. Muito diferente de ti, que não me dás a importância que mereço. E, além de tudo, não suporto mais esse cheiro de fumaça, de rancho com lenha ardida em fogão que tu tens... Adeus, nunca mais... Não espera por mim... Me esquece...” Tendo lido e relido o conteúdo do bilhete, a madrinha, embasbacada com aquela folha de papel na mão, não sabia o que dizer ao afilhado. Longos segundos se passaram enquanto os olhinhos do infeliz a olhavam curiosos, aguardando o fim da leitura. – Olha – diz a madrinha, por fim. – Acho que tu não deves te preocupar. Tua mulher deixou dito que foi passar o fim de semana com a tia dela, em Pelotas. Deixou comida na geladeira. É só aquecer. Diz que segunda-feira, ou terça, estará de volta. Deixou beijos e abraços. Nesta altura dos acontecimentos a madrinha, fazendo tempo enquanto pensava no que mais dizer ao afilhado, completou a leitura do bilhete: Ah! Ela botou aqui que não quer ver a cozinha suja quando chegar, nem a casa desarrumada... Por fim, dobrou o bilhete, bem devagarzinho - sabe lá no que ia dar aquele imbróglio! - e colocou-o na bolsa, por precaução... Madrinha é para essas coisas!... - Não é mesmo, minha amiga?

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