Al Di Lá

Você se lembra do filme Candelabro Italiano?

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Meu Caro.

Muito me lisonjeia saber que lês minhas crônicas. Tenho dúvidas se os temas tratados nelas te atraem e certezas sobre a dificuldade que é agradar a todos. Não obstante, não vou fugir dessa linha enquanto houver assunto, já que não mais me atraem as pesadas teses propostas pelas pessoas ditas politizadas. Foi-se o tempo em que ralávamos no Café do Tritri, até altas horas da noite, comentando as catilinárias do Comandante recém descido de Sierra Maestra, através da Rádio Martí ou os discursos do Leonel Brizola pelas ondas curtas da Voz da América. Ainda, confesso com certa reserva, me dá enfado buscar assunto num livro do Antero de Quental, do Régis Debray ou do Sartre ou mesmo ler e comentar as histórias policiais do Poe, do Hawthorne e do Wallace, para depois trocar idéias. Quero bem mais, quero ficar na simplicidade de ler e guardar para mim as aventuras da Miss Marple, do Inspetor Maigret e do Perry Masson que me divertem ou assistir filmes com a Megg Rayan, Nicole Kidman ou a Juliette Binoche. Adeus às teorias do Piaget, do Paulo Freire e do Betinho. Tudo hoje me soa como coisa vã. Se não assimilei os rudimentos de literatura do Sílvio Romero, do Teófilo Braga e do Mário de Andrade não vou entrar em parafuso. Até por que não existem mais a Churrascaria do João Gago, o Bar do Élvio e o Cavalo de Aço, do Felipe, lugares onde sem pudor nenhum partilhávamos essas atrocidades culturais madrugada adentro, não raras vezes em saudosa companhia do Eterno, do Jacques e do Marta Rocha - que Deus os Tem. Tudo passou. E valeu. Mas, é só. Hoje já não há mais idade e pique para enfrentar uma noitada num banco da praça pregando peças em guardas noturnos, discutindo artigos e charges dos atuais similares do nosso querido O Pasquim. Tudo tem seu tempo e para estes assuntos de alta importância novos cronistas estão por aí esbanjando talento. Mas, caro amigo, não entendes, possivelmente, a enorme satisfação que me invade quando enveredo pelas lembranças que guardei da minha aldeia. Pelas bobagens, como costumo dizer, que em ânsia louca procuro ouvir dos mais velhos. Outros andarão por aí, como disse, novos chegarão e aportarão seus barcos nesse cais das discussões importantes. Eu, de minha parte, se me permites, com toda essa tua juventude, com toda essa tua vontade e fleuma de ler assuntos menos leves, vou continuar chateando os meus pares com as histórias daqui onde me criei. Quero ser ilha nesse imenso arquipélago de coisas que ainda quero contar, se para tanto viver. E me encantar em saber que ao fim de uma crônica minha ao menos uma pessoa, só umazinha, num supremo elogio, se sair com este comentário: - Mas que bobagem!!!

2 comentários:

Anônimo disse...

CONCORDO, NADA MAIS UNIVERSAL QUE NOSSO QUINTAL.

Pedro Jaime Bittencourt Junior disse...

O interessante é ver que a resposta à todas aquelas nossas indagações filosóficas - eu, por exemplo, sempre me dividi entre o existencialismo sartriano e o niilismo de nietszche... - estava aqui, bem pertinho, do nosso lado, o tempo todo.
Na imensidão do pátio onde o velho Mário Corrêa me acolheu, no espaço físico que fica bem no cruzamento da Herculano de Freitas com a Basílio Conceição, onde se encontram o Pedro, o Drummond, o Vinícius e o Basílio (tens que vir conhecer), descubro por definitivo que o universo é distante demais e que o tempo e o espaço são unicamente o agora e o aqui, as nossas "bobagens" e nada mais.
Abço. e sigo te lendo.

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