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segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Os Cafés
Para o Juca Ramos da Silveira
Por aqui eles se chamaram por vários nomes de fantasia: Café do Ticató, Marrocos, Capri, Café do Sadi, Central, Atlântida, apenas para consignar algumas designações. Foram famosos os do Manoel Português, de nome Marrocos e o do Tritri, cujo nome não me vem à memória. Sei, de me contarem, evidentemente, que o prédio onde todos eles funcionaram teve existência graças ao Dr. Hélio Mariante, abastado pecuarista, figura apaixonada pela nossa terra, pelas nossas coisas e pelo cotidiano da cidade. Foi numa gestão dele como presidente da Sociedade Rural que nasceu a ideia de construir um prédio de dois pisos: no segundo andar a Sociedade Rural e, no térreo, um grande salão próprio para comércio. Mesas com tampo de mármore, um vasto balcão e, segundo a lenda, ao ecônomo do Café, o aluguel era simbólico: resumia-se a conservar o prédio, apenas. Não, apenas, não. Havia como trato de honra uma incumbência: nada de ir perguntar a um frequentador que sentasse a uma mesa se ele precisava de alguma coisa. Havia garçom para observar os sinais de pedidos de cafezinhos, ou outra bebida qualquer. Em resumo, frequentador assíduo podia sentar e o ecônomo ou o garçom estavam dispensados da célebre pergunta: - O que o senhor vai querer? Sentar às mesas era apenas para conversar e trocar ideias. Discutir turfe, futebol, política, ou qualquer coisa, ou nada. Chegar, sentar, e ali ficar a divagar sem ser importunado para que gastasse. Sentar e ficar ali (se quisesse), o dia todo, da manhã à noite. Belo gesto o do Doutor Hélio! Beneficiando a todos fizera um Café praticamente á sua custa, para o seu deleite e o das pessoas que ele gostava de ver desfilar pelas mesas. Bela figura o Doutor Hélio: secarrão, pouca conversa, eternamente pensativo... Transparecia ser a figura mais cheia do mundo. Aparência, apenas. Por dentro um cidadão bom de papo, fino trato, um gozador entre tantos a frequentar diariamente o convívio daquelas mesas. Moços, nós, tínhamos um respeito reverencial pelo Doutor Hélio. Já um colega que era mal educado, arrastava propositalmente a cadeira ao sentar-se, se pudesse arrotava alto e, alto, também, soltava traques. Pedíamos que ele não se comportasse desse jeito. Que ele respeitasse os frequentadores, principalmente quando estivesse presente o Doutor Hélio. Isto, entrava dia e saía dia, o colega repetia seus maus costumes sem dar-nos ouvidos. Mas, quis o destino, certa feita, que este colega montasse um escritório rural para remates de gado em geral. Instalado o escritório, que faz história até os dias atuais, buscava o nosso amigo e novo comerciante por clientes nos anúncios publicitários, no tête-a tête, nas boas recomendações dos pecuaristas locais. Enfim, sonhava com o sucesso de sua empreitada enquanto nós, seus amigos, ficávamos na torcida também. Num belo dia, estávamos à mesa do Café quando, recém chegando o nosso amigo, antes de vir sentar-se conosco, ouvimos o Doutor Hélio dirigir-se a ele: - Guri! Vem aqui... De pronto pensamos nalgum sermão, pelos seus maus modos – o que ele bem merecia... Nada disso: – Olha - disse o Doutor Hélio -, quando fizeres a primeira feira, vem falar comigo que eu vou vender uns bois no teu escritório. E, rematou: - Não negocio gado em feiras que não seja com gente daqui... É tapa com luvas, que se diz?

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