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Al Di Lá
Você se lembra do filme Candelabro Italiano?
domingo, 27 de abril de 2008
Destinos

Doutores

Redação

Meus Tipos

Borracheira

sábado, 26 de abril de 2008
O Cantor

Porco Preto

Esta história é do tempo em que o Posto de Saúde estava estabelecido onde hoje é a Ótica Karisma. O Fiscal de Saúde era o Seu Dega Goz. Diariamente ele ia ao Matadouro para carimbar a carne. O abate era feito no Matadouro do Tuca, lá para os lados da antiga Cooperativa. Mais precisamente na propriedade do Seu Abílio, onde existem, ainda, as raízes dos velhos umbuzeiros. Carneavam-se os animais e os miúdos eram dados para quem tivesse a paciência de ir lá pegá-los. Uma pessoa que sempre ganhava as fressuras, às vezes um mondongo, outras as patas era a Dona Sarinha, viúva cheia de filhos, moradora daquela redondeza, mãe do Cisco. Para tanto, ela destacava o Cisco para o Matadouro e de lá ele voltava sempre com algum presente para garantir o rango da família. Numa feita, carneava-se um enorme boi – enorme para mim que era pequeno? – e o Cisco impaciente à espera dos miúdos incomodava os trabalhos. O Seu Dega, esperando o fim de tudo para depois colocar o carimbo, assistia a faina e o incômodo que o Cisco causava na volta dos carneadores. O Tuca, paciente, já havia pedido para ele se afastar para a sombra das árvores. Mas, ele, mesmo assim, continuava incomodando. O Seu Dega, que não estava gostando nadinha da novela que o moleque patrocinava, perdeu a calma. Foi ríspido quando se dirigiu ao Cisco: Para de incomodar, guri. Tu até pareces filho daquele porco preto do Tuca. E apontou para o enorme porco que, se chegando, também, com o cheiro do sangue, fuçava não muito distante deles. Foi dizer e o guri deitou o cabelo em direção a sua casa, choramingando, por terem ralhado com ele. Ora, naqueles idos, em que não existia a Avenida Maria Pereira das Neves, havia um corredor que da cidade ia em direção ao Porto. Era a estradinha do Porto, como a chamávamos, único acesso da cidade à chácara do Tuca. E, neste caminho, com frente para o norte, a casinha da Dona Sarinha que esperava, com as mãos na cintura, pela passagem do Seu Dega, tudo para tirar uma satisfação. Dito, ela ataca o Fiscal e exige dele uma retratação: De onde ele tiraria provas de que o Cisco era filho do Porco Preto do Tuca. E cheia de razão, insistia: aprova, aprova que eu não sou uma viúva decente, falador. O Seu Dega ficou mudo sem conseguir consertar a ralhação que fizera. O Cisco, escondido, sem ter trazido nenhum miúdo para a bóia, só ouvia a lenga-lenga. Depois, na escola, por certo tempo, tentamos brincar com o Cisco. A Dona Sarinha veio até o Vinte e botou bronca. A coisa ficou meio esquecida. Meio, claro, por que sempre que tenho oportunidade pergunto a ele sobre o porco preto... Bem baixinho pra ninguém ouvir...
Presentes

sexta-feira, 25 de abril de 2008
O Enfarte

Encrenca

O Cabeça, açougueiro, cortava carne com precisão no peso. Um quilo, e ele, na batata, largava o corte em cima da balança, sem erro de grama. Dificilmente não acertava. A não ser que se lançasse um repto duvidando da maestria dele. Aí, sim, ele embravecia e o corte não dava mesmo o quilo certo. Poucos se animavam a toureá-lo quando atendia na venda da carne. De certeza, provocado, pedia briga. Um dia, o Otacílio da Currucha foi comprar guisado e, já da porta do açougue, mal entrando, com cara de deboche, cutuca a onça com a vara curta: - Me dá um quilo de guisado, e vê se hoje não erras no peso... O Cabeça, imperturbável, sem dar a mínima atenção ao pedido, passa a mão na chaira, senta o fio da faca e começa a falquejar a maior costela que estava em cima da banca. Depois de descarnado e limpo o osso, sem largá-lo, faz a volta no balcão e acerta com ele uma paulada na cabeça do Otacílio. Depois, várias, pelo lombo, por onde caísse, até ele fugir, todo lanhado, disparando rua afora. Podendo silenciar sobre a sova, e ir para casa, o Otacílio preferiu dar com os costados na delegacia de polícia, todo queixoso e doído. O delegado de então, o Seu Orocil, em virtude da infração penal, lavra uma notificação chamando o agressor para prestar esclarecimentos. Comparecendo, o Cabeça não negou as pauladas. Mais deixou claro que repetiria a dose se o Otacílio voltasse a provocar. Criado o impasse, e não querendo o Delegado abrir inquérito – sabe como é? Cidade pequena, tudo amigo... -, tentou uma jogada de malandro: Chamou à Delegacia, então, o ofendido. Com o lombo ainda inchado, como soía, ele volta, ansioso por novidade contra seu desafeto. Mal adentra ao cartório, já foi o Delegado dizendo: Que papelão me fazes, Otacílio! Chamei o Cabeça aqui e ele me garantiu que foste tu quem bateu nele, que ele foi a vítima, tudo diferente do que declaraste. Explica isso, vamos! Ao que o Otacílio, com ar de valentão, enchendo o peito, e aceitando a bomba, replicou: Ah, dei! Dei e tá bem dado... E podes me processar!...
O Profissional

Sputnik

No finzinho da década de cinqüenta reinavam no nosso mundo turfístico, como melhores parelheiros, os cavalos Foguinho, tostado, do Seu Jacinto e o Suez, um malacara do Aldirinho da Minda. Os outros, eram os outros... Estes, não... Estes davam sota e basto e, quando corriam, muita luz nos adversários. Foi nesse tempo que o Herculano inventa de se associar com o João e o Manoel Rodrigues, na compra de um cavalo zaino, lá do Povo Novo, rebatizado de Sputnik, tudo num bem engendrado plano para dar fim ao favoritismo dos dois melhores que havia nas canchas, até então. Tratadores a postos, controle de peso dos jóqueis, tudo nos conformes, acertaram uma penca na cancha reta da granja do Seu Joaquim, lá nas Capoeiras. Deixa estar, que os proprietários do Sputnik, contrataram como jóquei para a esperada corrida, o Luis da Filhota, daqui da cidade - mas operando com um sucesso enorme nas canchas de Jaguarão e Rio Branco, já há um rol de anos - tido como um dos melhores da região. Como nestas bandas não vigora o costume de realizar a corrida grande às duas horas, e em sendo primavera, à época do desafio, com dia ainda curto, a largada se daria lá pelas quatro, quatro e pouco do relógio. Pois, o trio de proprietários, encabeçado pelo Herculano, resolve dar um doping no zaino, horas antes, para garantir vitória. Vindo de Pelotas, o Major, um alarifaço que sempre andava por estas canchas, estuda o animal e as reações da picada que levara. A achando que ele assimilara bem a dose, resolve dar outra injeção. Deixá-lo pronto para enfrentar a reta dos trezentos metros. Já no partidor, foi uma luta a largada, dada a inquietação do Sputnik para se parar na caixa e, subida a fita, já na arrancada, ele destrilhou, cego, cego, em direção a uma corticeira que havia hás uns cinqüenta metros, para o lado da pista, se pranchando no segundo andar dos galhos da árvore. E lá ficou. De cima do cavalo, tiraram o Luis da Filhota, de olhos fechados e enroscado como mulita quando se defende do perigo. No desfecho, o jóquei foi levado para a Santa Casa e atendido pelo Dr. Karan. Esquecidos do destino do Foguinho e do Suez, os donos do Sputnik, dada a broma, caminhavam nervosos pelo corredor do hospital à espera de uma boa notícia, já que tudo poderia redundar numa vítima na pessoa do jóquei. Foi quando, aberta a porta do ambulatório pelo Irineu enfermeiro, o Herculano pergunta: - Como ele tá? Tá bem o Luis? Óia, diz o Irineu, o susto passou com o calmante que o doutor deu. Já está desenroladinho e teso em cima da maca, mas não entrem agora que vocês vão se arrepender... Tá um cheiro... Tá horrívi lá dentro...
Meus Tipos

Dia desses um incauto apareceu no Armazém Pingüim à procura de isca para isqueiro. Atendido pelo Darci do Lino, um dos proprietários da casa, com toda a delicadeza que um bom caixeiro deve aos fregueses, foi informado que, no momento, estavam em falta do artigo procurado. Mas, que, seguramente, na Ferragem Vianna, ou na Ferragem do Dallarosa ele encontraria iscas. Para ir nesta primeira casa informada, da esquina do armazém, apontando o dedo, com o braço estendido, para o prolongamento da Rua Gumercindo Saraiva, o Darci deu as coordenadas ao freguês: - O senhor só vai dobrar esquina uma vez, preste bem atenção: Vá sempre pela calçada do outro lado, passe o Cabaré da Dona Cizica que fica na outra quadra, depois, andando mais outra quadra, já naquela outra esquina, passe o peixe do Pedro Calaveira e atravesse a rua; siga, passe pelo Bar da Colota e vá até a esquina da venda do Olegarinho. Aí, sim, dobre e vá até a quadra do Grupo Escolar “20 de Setembro” - atravesse a rua em diagonal e, antes, chegue à venda do Paulinho de Quadro, aproveite para tomar uma gasosa Guaraci, ou uma “17”, bem fresquinha, para espantar o calor. Depois, sempre reto, vá até a casa do Graúdo, bem defronte à Casa Yolanda do Seu Moisés, e estará frente à ferragem. Ah! se o senhor for atendido pelo João Gago, diga que foi o Felipe do Seu Oscar, um amigo dele, que o encaminhou... Para ir à Ferragem Vianna - a alternativa -, ele apontou com a mão na direção da Zeca Maciel, sempre chamando a atenção que só havia uma dobra de rua. Que ele seguisse por essa calçada até a quadra onde está a bomba de gasolina do Seu Lindinho, defronte à Casa Extra do Seu Virgílio, e continuasse até a outra esquina, do Armazém do Aymoré. Então, dobrando, passasse a quadra da Loja A Gloriosa, do José Macksoud e, antes de chegar à Loja A Brasileira, do Castelhano Pablo Marcelino, bem defronte ao Hotel do Branco, está a ferragem (que deveriam vender, e bem baratinho, o que ele procurava). Como era uma tarde de Sábado, se a casa não respeitasse a semana inglesa, ele seria bem atendido pelo Seu Ceci. E que fora informado... A outro freguês, que procurava mecha para lampião a querosene, estando a ferragem em falta, ele informou - fazendo um mapa numa folha de papel de embrulho - que quem vendia uma variedade ímpar de mechas era a casa comercial do Seu Izidro Peres: que ele seguisse por esta rua (a Zeca Maciel), passasse a quadra da Companhia Telefônica, mais a quadra do Ambulatório do Seu Teófilo; depois a quadra do açougue do Cabeça, até chegar à venda do Hernandes, confronte à Pharmácia Maciel. Aí (e olhava para o interlocutor para ver se ele prestava atenção. Prestava...), aí, dobrando para a direita, passando a casa da Adolfina, onde o Edmundo Añaña tem uma loja que vende bicicletas, ele atravessasse a rua e andasse até chegar num campinho onde está armado, neste mês de fevereiro, até o carnaval, o Circo do Chimbica, bem confronte ao Consultório do Doutor Karam... É ali. Dá pra aturar? Dá?...
Leão da Vila Foot-ball Club

quinta-feira, 24 de abril de 2008
Meus Tipos

O Cubatão e o Santo eram grandes companheiros de pescaria. Nos sábados e feriados, de forma sagrada, o Santo tirava a sua carrocinha do galpão, atrelava a ruaninha, e - pernas pra que te quero - pegavam o rumo da estrada do Porto. Tralhas na carroça, davam uma parada na padaria do Seu Martim, para comprarem o pão e a mortadela, fiambre que era bancado alternadamente. O Cubatão, de compleição baixinha e gordo, sempre sério, ranzinza, como era da sua personalidade, não cumprimentava ninguém e só falava a muito custo. O Santo era mais graxa, não só não se importava com a bílis de ninguém como também dele o azedume passava a léguas. Com todos conversava, ria, cumprimentava, levantando o relho, mostrando os dentes, fazendo os ibarrarrás, naquela sua eterna alegria. Este era para se dizer, sem errar, pessoa de bem com a vida. Aquele meio belicoso com o mundo. Um era, sem sombra de dúvida, e de maneira inexplicável, exatamente o contrário do outro, mas, mesmo assim, eles se entendiam no más, ou, até demais. Um dia, quando a compra do fiambre era por conta do Santo, mal ele desce da carroça, justo saía da padaria a Dona Emília, mãe do Bidiva, que lhe cobrou: - Afinal, Santo, e os peixes que tu me prometes, quando chegam? Faz anos, hein? Caçoou. Resposta, gritando para meio mundo ouvir: - É hoje, minha velha... Hoje a senhora ganha um jundiá para o ensopado, e, se enquadrando, uma traírinha pra fritar... Hoje a lua tá boa e misturada com a mão e a sorte do Cubatão... Disse, olhou para o companheiro, entrou na padaria, comprou os pães, e, surpresa! Quando voltou para a carrocinha, cadê o Cubatão? Olhou para o lado e viu o companheiro, já longe, voltando para casa com caniços, lampião e o resto dos avios. Deu cara-volta e alcançou-o, perguntando: - Que bicho te mordeu, homi de Deus? O Cubatão, casmurriento, sem diminuir o passo, devolveu: - Ué!, nós nem cheguemo a sair pra pescaria e tu já tás dando os peixes!!! Cansei!
sexta-feira, 18 de abril de 2008
A Vila da Palha
A Vila se estendia por toda aquela suave curva que nasce nas Três Marias e tem seu fim na Chácara do Aquilino. Por que da Palha? A explicação mais lógica seria pelo arranchamento que existia, com casas de barro e santa fé, desde onde nascia a hoje Avenida da Saudade e, encordoado como contas de um rosário, terminava lá no alto. O casario era por um lado só de calçada e tal se explica pelo fato de pertencerem à chácara do Aquilino as terras do outro lado da rua e ele nunca ter cedido ou vendido terrenos da sua propriedade. Desse lado, apenas a casa do Seu Pipi, O Aguateiro. Mais nada. Pelo lado dos arranchamentos, o primeiro bar naquela rua, hoje avenida, foi o do Nestor Crochi, numa casa de material, destoante dos ranchos. Na encruzilhada, onde hoje ensaia uma escola de samba, se localizava o rancho do Dininho Sete Quadras, bem perto da casa do vizinho Ursulino, da casa da Candinha. Foi quando a Vila já estava perdendo o seu pitoresco nome que nasceu, bem no alto, o famoso Cabaré da Teixeirinha, também conhecido, por um largo período, como Planeta dos Macacos. Na Palha, com suas três estrelinhas esculpidas na fachada, o primeiro armazém naquela zona, de propriedade do Seu Pompílio. Também tiveram certa fama, quando as casas de alvenaria começaram a descaracterizar a Vila, a Churrascaria Cavalo de Aço, do Felipe e o inesquecível Bar da Noca. Pois, foram ali, nas Três Marias, os melhores comícios que a população assistiu. Isto, enquanto a zona foi considerada o finzinho da cidade. Foi num comício ali na Vila da Palha que o Pedro Bitencourt fez reviver, referindo-se a um adversário medalhão da política local, que assistia aos discursos, a expressiva frase: É contigo mesmo, calça floreada. Neste mesmo comício, em que o Pedro estava com toda a corda, ele dizia três ou quatro palavras e o Cabana e o Aloi, que eram adversários, só para esculachar o discurso, lá das beiradas, gritavam: - Olha a Escola Rotary!!! Olha o incêndio da Escola Rotary!!! - alusão que faziam por que o Pedro defendia, à época, os acusados de um incêndio no prédio da escola. O orador, depois de muito escutar, já de saco cheio, pediu aos assistentes do comício que abrissem um caminho que havia adversários com vontade de se manifestar. Foi abrir a passagem e, desde o palanque, surgiram as figuras do Zé do Julião, Chinelo, Timotéo, e outros correligionários... Ai, menina!... Aquela quadra onde está a fruteira da Sirlei ainda era vazia e cercada de arame. Deu prá ver e conhecer os cobras mandadas em ridícula disparada... Noutra feita, ainda naquela zona, o Lauro Cavalheiro, num comício da ARENA, inventou de cumprimentar o Arthur Bachini, à época Deputado estadual pela sigla. Para surpresa, sendo comício de adversários, o Lauro vai até o palanque deles. Quando o Bachini estendeu as mãos para o abraço que imaginava fraternal, o Lauro, mesmo cercado de correligionários do Deputado, deu-lhe uma estrondosa bofetada. Tudo sem explicação nenhuma. Coisas de Política nos inesquecíveis comícios da Vila da Palha.
quarta-feira, 16 de abril de 2008
"Vila da Palha"
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