Al Di Lá

Você se lembra do filme Candelabro Italiano?

sábado, 26 de abril de 2008

Porco Preto


Esta história é do tempo em que o Posto de Saúde estava estabelecido onde hoje é a Ótica Karisma. O Fiscal de Saúde era o Seu Dega Goz. Diariamente ele ia ao Matadouro para carimbar a carne. O abate era feito no Matadouro do Tuca, lá para os lados da antiga Cooperativa. Mais precisamente na propriedade do Seu Abílio, onde existem, ainda, as raízes dos velhos umbuzeiros. Carneavam-se os animais e os miúdos eram dados para quem tivesse a paciência de ir lá pegá-los. Uma pessoa que sempre ganhava as fressuras, às vezes um mondongo, outras as patas era a Dona Sarinha, viúva cheia de filhos, moradora daquela redondeza, mãe do Cisco. Para tanto, ela destacava o Cisco para o Matadouro e de lá ele voltava sempre com algum presente para garantir o rango da família. Numa feita, carneava-se um enorme boi – enorme para mim que era pequeno? – e o Cisco impaciente à espera dos miúdos incomodava os trabalhos. O Seu Dega, esperando o fim de tudo para depois colocar o carimbo, assistia a faina e o incômodo que o Cisco causava na volta dos carneadores. O Tuca, paciente, já havia pedido para ele se afastar para a sombra das árvores. Mas, ele, mesmo assim, continuava incomodando. O Seu Dega, que não estava gostando nadinha da novela que o moleque patrocinava, perdeu a calma. Foi ríspido quando se dirigiu ao Cisco: Para de incomodar, guri. Tu até pareces filho daquele porco preto do Tuca. E apontou para o enorme porco que, se chegando, também, com o cheiro do sangue, fuçava não muito distante deles. Foi dizer e o guri deitou o cabelo em direção a sua casa, choramingando, por terem ralhado com ele. Ora, naqueles idos, em que não existia a Avenida Maria Pereira das Neves, havia um corredor que da cidade ia em direção ao Porto. Era a estradinha do Porto, como a chamávamos, único acesso da cidade à chácara do Tuca. E, neste caminho, com frente para o norte, a casinha da Dona Sarinha que esperava, com as mãos na cintura, pela passagem do Seu Dega, tudo para tirar uma satisfação. Dito, ela ataca o Fiscal e exige dele uma retratação: De onde ele tiraria provas de que o Cisco era filho do Porco Preto do Tuca. E cheia de razão, insistia: aprova, aprova que eu não sou uma viúva decente, falador. O Seu Dega ficou mudo sem conseguir consertar a ralhação que fizera. O Cisco, escondido, sem ter trazido nenhum miúdo para a bóia, só ouvia a lenga-lenga. Depois, na escola, por certo tempo, tentamos brincar com o Cisco. A Dona Sarinha veio até o Vinte e botou bronca. A coisa ficou meio esquecida. Meio, claro, por que sempre que tenho oportunidade pergunto a ele sobre o porco preto... Bem baixinho pra ninguém ouvir...

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