Al Di Lá

Você se lembra do filme Candelabro Italiano?

domingo, 27 de abril de 2008

Meus Tipos

Diomésia. Tinha, também, o apelido de Biruta. Figurinha miúda, tronco magro, pernas cambotas e cabelos brancos à moda sura, com se fosse um menino. Nariz helênico, levemente apapagaiado. Olhos baços, cinzentos, a noticiarem que eles foram verdes na sua juventude. Na boca pequena nunca ninguém viu uma nesga de sorriso. Nunca ria. Parecia estar sempre de mal com a vida, embora seu olhar denunciasse o contrário. Nenhum adereço a enfeitar seu manequim. Nada nos cabelos, no pescoço, nos pulsos, nos dedos... Compartilhou um terreno com o Guanaco, como era chamado o Adeodato Velho, naquela esquina onde o Doutor Roquete veio a construir sua casa. Figura pitoresca que, para sua perambulação diária pelas ruas da cidade, usava vestidos de cor verde. Viveu sem ter sido jamais vista com outro tipo de roupa ou outra cor que não fosse essa. Usava uns sapatinhos maria-mole - pintados de verde - em combinação com o resto do figurino. Vivia de donativos. Em uma época que não havia indigentes, duas ou três casas de famílias abastadas supriam as suas necessidades. Raramente carregava alguma coisa nas mãos que não fosse a sua niqueleira. Só com a chegada da velhice foi que se apoiou em um pequeno cajado. Já então não saía mais de casa. A Diomésia era um dos passatempos da garotada. Inticávamos com ela que, braba, muitas vezes investia com pedras contra a zombaria. Os adultos também se aproveitavam para tirar uma casquinha quando a chamavam de Biruta e implicavam com a altura dela, com a cor das suas vestes, dizendo que estava parecida com uma caturrita. Davam-lhe namorados. O chiste não lhe agradava como não agradava nenhum dos consortes que sugeriam para lhe fazer par: Era o Maneca Louco, o Caminhão, o João Barbela, o Cotó... Aí, sim, ela entristecia. Ficava amuada, com um filete de ruga, de cada lado da boca, descendo pelo queixo cheio de fiozinhos brancos. Não lembro qual reação tomava quando contrariada pelos mais velhos, mas, seguramente, não lhe acudia a mesma fúria que usava contra nós, os moleques. Deixou-nos ainda na década de sessenta. Partiu vestida de verde, evidentemente.

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