Al Di Lá

Você se lembra do filme Candelabro Italiano?

sexta-feira, 25 de abril de 2008

O Profissional

O Alcidezinho, que sempre tivera a profissão de serviços gerais, sem nunca deixar de sonhar com uma profissão especializada, um dia, com um enorme esforço, buscado no recôndito da sua inteligência, aliado ao esperto Instituto Universal, formou-se na profissão de relojoeiro. Bacharelado, ele expõe o diploma, por várias semanas na vitrine da Casa Americana, do Rocco. Daí, ao sucesso, foi um pequeno passo onde nunca faltaram exibições profissionais. Uma delas, que foi muito comentada, a invenção de um sistema para uso na bicicleta. Consistia num relógio despertador que, fixado ao guidão, sonava a campainha toda vez que ele brecava o veículo numa esquina. Outra, era um relógio que não tinha o ponteiro dos minutos e o mostrador era todo dividido, de dez em dez minutos, através de tracinhos entre as horas. No entanto, embora já um profissional respeitado em conserto de relógios, alguns dos antigos compromissos, com os antigos clientes, ele não abandonara. Anualmente, perto da primavera, ele fazia uma limpeza geral no jardim da Dona Zaida Albuquerque. Era sagrado o compromisso. Chegado o finzinho do agosto lá se apresentava, com a enxada, o ancinho, vassoura, pazinha do lixo e o carrinho-de-mão. Levava, ainda, um cartaz em que estava escrito: “Eu continuo relojoeiro” que fixava num canteiro, para evitar a brincadeira dos moleques grandes, que viviam perguntando: “Ué, Seu Alcidezinho, mudou de profissão?”. Religiosamente, finda a limpeza do jardim, retirava o cartaz, juntava as tralhas e voltava para a sua relojoaria. Depois, só se houvesse enchente no arroio é que dava uma descansada, com o conserto de relógios. Tudo por que as águas, que não avisavam quando vinham sempre invadiam sua casa. O contratempo, que o obrigava a retirar toda a família da casa, não o removia de perto de sua ferramenta a qual mantinha dentro da casa, enquanto as águas da enchente não baixassem. Sucedia nessas ocasiões, ele cozinhar com água pelo meio do fogão, sempre agüentando firme, não arredando o pé da casa, dos relógios, das suas ferramentas. Quantas vezes o Alcidezinho perdeu o humor com os curiosos que iam até a beira do arroio para ver a altura das águas... Quantas vezes? Também, quem ia aturar os gozadores perguntando para ele, que estava no telhado da casa, depois do almoço, com o cano do fogão fumegando: “- E aí, Seu Alcidezinho, quando é que parte o vapor???” Era demais, era demasiado cruel e ele xingava. Com razão ele enchia o peito e xingava, com sua voz fanhosa, mandando a todos que fossem para a praia que os pariu!!!.

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