Al Di Lá

Você se lembra do filme Candelabro Italiano?

sábado, 26 de abril de 2008

Presentes

Não foi só uma vez, nem duas, que o Adão Bidiva ganhou de presente as cabeças de vaca do Seu Lindinho. Sempre que carneavam lá na estância vinha de presente para o Adão a cabeça do animal. Era, então, que ele preparava o braseiro do fogão para usar o forno. Manhã inteira, desde cedo, e a cabeça se aprontando para o final e delicioso deleite. Vai daí, que o importante nesta história é contar, também, os muitos ressentimentos que o presente, embora bem vindo, sempre trazia ao Adão. Assim, isto ocorreu por anos a fio, a cabeça de vaca era entregue sempre pelo Elsi, o capataz, que vinha lá de fora para a cidade especialmente para este fim. Mas - tinha que haver um mas -, o presente chegava sem a língua que, todo mundo sabe, é uma iguaria. Esta, de certeza ficava pelo caminho, fosse por que o doador a aproveitava, fosse por obra do capataz surrupiada em meio ao destino. Mas, como pra burro dado não se olha o pelo, cabeça após cabeça, iam sendo assadas sem a língua, mesmo. Afinal, se aproveitavam outras partes, etecetera e tal e a coisa fluía na sua normalidade. Não se tocava no assunto, e fim. Porém, um dia, o capataz chegou à cidade e, antes da entrega, tendo um contratempo, pediu a um peão que o acompanhava para fazer a entrega do presente mandado pelo Seu Lindinho. O peão, para tirar a sua casquinha resolve, antes de entregar a cabeça ao Adão, tirar também os miolos. Desta feita que contamos, o Adão Bidiva, sentindo que a coisa tinha passado da conta e chegado a um limite insustentável, se emborcou: Podiam levar de volta que assim como o presente vinha ele não mais o queria. Pois, a partir da estrilada do Adão o presente passou a chegar inteirinho, inteirinho, com língua e tudo. Uma verdadeira maravilha. Até hoje, se era obra do doador originário, ou do capataz, ninguém ficou sabendo, mas, como o Adão contava, as queixadas passaram a ser apenas lucro. Puro lucro.

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