O tema é antigo e recorrente e trata de uma séria injustiça para com um animalzinho tão dócil, tão esperto e resistente. Por aqui lembramos os burros do Luís dos Burros. O Luís, lá da Coxilha do Fogo, carroça carregando areia para as construções, pingando água rua a fora... Seus animais, invariavelmente carregavam nomes de políticos. Nomes que eram engraçadamente trocados ao sabor dos tempos: os burros Meneguetti, Peracchi, Guazelli (nunca se soube se teve burro com nome de político local) e a mula Castorina que nunca trocou seu nome, pois eram raríssimas as mulheres que entravam na política naqueles tempos. Aproveitando o assunto, parecido com um burro do Luís, um deles, de nome Platero, alavancou um Prêmio Nobel para Juan Ramon Jimenez, em 1956: Platero pequeno, peludo, suave, parece feito de algodão, sem ossos, mas com um olhar duro, escreveu o poeta espanhol. Célebre também é o burro de Balaão. No Livro dos Números, 22:23 a 22:33, escrito por Moisés, em 1400 A.C., o burrinho que passou a vida inteira transportando Balaão, por três vezes foi duramente chicoteado (num dia de patetice deste Profeta). O Anjo, depois, envergonhou Balaão jogando na cara dele a estultice de castigar um animalzinho tão inteligente e tão fiel. Temos, ainda, os burros falantes do Velho Machado de Assis: Numa crônica publicada n’A Semana, de 16 de outubro de 1892, tratando do tema sobre a inauguração dos bonds elétricos na cidade do Rio de Janeiro, o narrador surpreendeu a conversa de dois muares que filosofavam sobre o destino deles (conversa que foi à luz porque os animaizinhos, tanto quanto quem os ouvia, também eram versados na língua dos houyhnhnms, aqueles da última viagem de Gulliver e que eram inimigos dos Yahoos). E os Burros de Buridan? Será a indecisão dos animais um copy desk desastrado em cima das divagações aristotélicas de dois mil e trezentos anos atrás? Escolheram bichos errados para a demonstração correta do determinismo moral proposto por Jean Buridan? E a velha história do Burro do Camponês que caiu num poço. E, em sendo impossível resgatá-lo para o chão plano, resolveu seu dono, ajudado por outros campônios, jogar terra no buraco e enterrá-lo para que morresse. Foi então que, pá após pá de terra jogada, o bicho foi subindo, subindo espertamente, até a borda do poço. Ah! Os burros... Pedro Malasartes - segredando ao asno a morte da sua mãe (dele burro) - socou-lhe um charuto aceso no ouvido. O Barão de Münchausen (o Malasartes germânico) montava a metade da frente de um burro na sua inverossímil história da fonte. Bocage (Manuel Maria Barbosa du Bocage, o Elmano Sadino da Nova Arcádia, maior poeta da língua portuguesa – que nestas paragens é conhecido somente por ter sido pândego) montava um burro quando chegou à casa do camponês, para ensinar a fazer uma sopa de pedra. Outro pícaro, célebre na literatura da Idade Média: Till Eulenspiegel. Tinha um burro falante e com ele entulhou o anedotário do Sacro Império Romano-Germânico com suas picardias. Ué! Desviei do assunto... Perdi o fio da meada... Justo quando me ocorria dizer uma coisa pitoresca sobre os burros. Ou sobre os burros? Pô!Quem sou eu
Al Di Lá
Você se lembra do filme Candelabro Italiano?
quinta-feira, 11 de agosto de 2011
O burro é burro?
O tema é antigo e recorrente e trata de uma séria injustiça para com um animalzinho tão dócil, tão esperto e resistente. Por aqui lembramos os burros do Luís dos Burros. O Luís, lá da Coxilha do Fogo, carroça carregando areia para as construções, pingando água rua a fora... Seus animais, invariavelmente carregavam nomes de políticos. Nomes que eram engraçadamente trocados ao sabor dos tempos: os burros Meneguetti, Peracchi, Guazelli (nunca se soube se teve burro com nome de político local) e a mula Castorina que nunca trocou seu nome, pois eram raríssimas as mulheres que entravam na política naqueles tempos. Aproveitando o assunto, parecido com um burro do Luís, um deles, de nome Platero, alavancou um Prêmio Nobel para Juan Ramon Jimenez, em 1956: Platero pequeno, peludo, suave, parece feito de algodão, sem ossos, mas com um olhar duro, escreveu o poeta espanhol. Célebre também é o burro de Balaão. No Livro dos Números, 22:23 a 22:33, escrito por Moisés, em 1400 A.C., o burrinho que passou a vida inteira transportando Balaão, por três vezes foi duramente chicoteado (num dia de patetice deste Profeta). O Anjo, depois, envergonhou Balaão jogando na cara dele a estultice de castigar um animalzinho tão inteligente e tão fiel. Temos, ainda, os burros falantes do Velho Machado de Assis: Numa crônica publicada n’A Semana, de 16 de outubro de 1892, tratando do tema sobre a inauguração dos bonds elétricos na cidade do Rio de Janeiro, o narrador surpreendeu a conversa de dois muares que filosofavam sobre o destino deles (conversa que foi à luz porque os animaizinhos, tanto quanto quem os ouvia, também eram versados na língua dos houyhnhnms, aqueles da última viagem de Gulliver e que eram inimigos dos Yahoos). E os Burros de Buridan? Será a indecisão dos animais um copy desk desastrado em cima das divagações aristotélicas de dois mil e trezentos anos atrás? Escolheram bichos errados para a demonstração correta do determinismo moral proposto por Jean Buridan? E a velha história do Burro do Camponês que caiu num poço. E, em sendo impossível resgatá-lo para o chão plano, resolveu seu dono, ajudado por outros campônios, jogar terra no buraco e enterrá-lo para que morresse. Foi então que, pá após pá de terra jogada, o bicho foi subindo, subindo espertamente, até a borda do poço. Ah! Os burros... Pedro Malasartes - segredando ao asno a morte da sua mãe (dele burro) - socou-lhe um charuto aceso no ouvido. O Barão de Münchausen (o Malasartes germânico) montava a metade da frente de um burro na sua inverossímil história da fonte. Bocage (Manuel Maria Barbosa du Bocage, o Elmano Sadino da Nova Arcádia, maior poeta da língua portuguesa – que nestas paragens é conhecido somente por ter sido pândego) montava um burro quando chegou à casa do camponês, para ensinar a fazer uma sopa de pedra. Outro pícaro, célebre na literatura da Idade Média: Till Eulenspiegel. Tinha um burro falante e com ele entulhou o anedotário do Sacro Império Romano-Germânico com suas picardias. Ué! Desviei do assunto... Perdi o fio da meada... Justo quando me ocorria dizer uma coisa pitoresca sobre os burros. Ou sobre os burros? Pô!
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Visitantes
Marcadores
- crônicas (2)

Nenhum comentário:
Postar um comentário