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Você se lembra do filme Candelabro Italiano?

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

O burro é burro?

O tema é antigo e recorrente e trata de uma séria injustiça para com um animalzinho tão dócil, tão esperto e resistente. Por aqui lembramos os burros do Luís dos Burros. O Luís, lá da Coxilha do Fogo, carroça carregando areia para as construções, pingando água rua a fora... Seus animais, invariavelmente carregavam nomes de políticos. Nomes que eram engraçadamente trocados ao sabor dos tempos: os burros Meneguetti, Peracchi, Guazelli (nunca se soube se teve burro com nome de político local) e a mula Castorina que nunca trocou seu nome, pois eram raríssimas as mulheres que entravam na política naqueles tempos. Aproveitando o assunto, parecido com um burro do Luís, um deles, de nome Platero, alavancou um Prêmio Nobel para Juan Ramon Jimenez, em 1956: Platero pequeno, peludo, suave, parece feito de algodão, sem ossos, mas com um olhar duro, escreveu o poeta espanhol. Célebre também é o burro de Balaão. No Livro dos Números, 22:23 a 22:33, escrito por Moisés, em 1400 A.C., o burrinho que passou a vida inteira transportando Balaão, por três vezes foi duramente chicoteado (num dia de patetice deste Profeta). O Anjo, depois, envergonhou Balaão jogando na cara dele a estultice de castigar um animalzinho tão inteligente e tão fiel. Temos, ainda, os burros falantes do Velho Machado de Assis: Numa crônica publicada n’A Semana, de 16 de outubro de 1892, tratando do tema sobre a inauguração dos bonds elétricos na cidade do Rio de Janeiro, o narrador surpreendeu a conversa de dois muares que filosofavam sobre o destino deles (conversa que foi à luz porque os animaizinhos, tanto quanto quem os ouvia, também eram versados na língua dos houyhnhnms, aqueles da última viagem de Gulliver e que eram inimigos dos Yahoos). E os Burros de Buridan? Será a indecisão dos animais um copy desk desastrado em cima das divagações aristotélicas de dois mil e trezentos anos atrás? Escolheram bichos errados para a demonstração correta do determinismo moral proposto por Jean Buridan? E a velha história do Burro do Camponês que caiu num poço. E, em sendo impossível resgatá-lo para o chão plano, resolveu seu dono, ajudado por outros campônios, jogar terra no buraco e enterrá-lo para que morresse. Foi então que, pá após pá de terra jogada, o bicho foi subindo, subindo espertamente, até a borda do poço. Ah! Os burros... Pedro Malasartes - segredando ao asno a morte da sua mãe (dele burro) - socou-lhe um charuto aceso no ouvido. O Barão de Münchausen (o Malasartes germânico) montava a metade da frente de um burro na sua inverossímil história da fonte. Bocage (Manuel Maria Barbosa du Bocage, o Elmano Sadino da Nova Arcádia, maior poeta da língua portuguesa – que nestas paragens é conhecido somente por ter sido pândego) montava um burro quando chegou à casa do camponês, para ensinar a fazer uma sopa de pedra. Outro pícaro, célebre na literatura da Idade Média: Till Eulenspiegel. Tinha um burro falante e com ele entulhou o anedotário do Sacro Império Romano-Germânico com suas picardias. Ué! Desviei do assunto... Perdi o fio da meada... Justo quando me ocorria dizer uma coisa pitoresca sobre os burros. Ou sobre os burros? Pô!

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