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sábado, 27 de agosto de 2011

A Outra Sete Portas

Já escrevemos, tempos atrás, sobre a Sete Portas que existiu na Rua Doutor Dionísio. No entanto em nossa cidade havia outra Sete Portas cujo dono era o Seu João Rodrigues. Ficava no cruzamento das atuais ruas General Osório com Gumercindo Saraiva. Esta edificação tinha como vizinho o primeiro Cabaré da Tia Rosa. Moramos na nossa meninice no quarteirão que era assim formado: Numa esquina a nossa casa, na outra a Tia Rosa, noutra a casa da Castelhana Casemira e bem na esquina (onde hoje é o Açougue Rodrigues), com frente para a Rua General Osório, o famoso Bar do Timotéo. Ali se vendia de tudo: tinha gibi do Xuxa, disco 78 rotações do Chico Alves, os primeiros long-plays do Cauby Peixoto e da Ângela Maria, pneu com aro e câmara, montado, pronto para uso em Ford Bigode, rádio à válvula, pão, relógios (dos empenhos), botas campeiras, esporas, velas, sardinhas em lata e o que mais se possa imaginar. Era o boteco em que entrava o maior número de borrachos por dia. Ali o gambá não precisava de dinheiro para comprar canha: deixava o que tivesse: nos pés, no pulso, na cabeça, no bolso e, assim, o escambo corria a frouxo. O boteco era, seguramente, o mais sujo entre os sujos que pudessem existir na Terra. O mais fedorento e o mais apertado, também. Com as prateleiras cheias de garrafas de bitter, vermute, tequila, rum, cerveja, tudo misturado com sabão, telha francesa, cano de fogão, lata de querosene, fumo em rama, tecido em peças, mostrador de linhas Corrente, chinelos coloniais, alpargatas Roda, tijolos refratários... No chão, sacos de amendoim com casca, açúcar, arroz, feijão, batata inglesa, bateria de carro, pá de corte, macaco de manivela, lona de caminhão... Sobre o balcão, um baleiro com balas e pirulitos, pentes de plástico, Leite de Rosas, queques e rapadurinhas diversas: de leite, coco, amendoim, abóbora, tudo em comunhão com a cachaça esparramada no balcão pelos clientes. Numa das portas morou o seu Agapito que foi maleiro na Estação Rodoviária e se distraía, entre uma chegada e outra de ônibus, tocando uma gaita piano de 48 baixos. Noutra, depois de ser quarto de aluguel, veio a ser o último Bar do Pardinho. Noutra uma churrascaria que foi do Martin Ligeiro e depois Bar da Vera do Nenê Balhego. As outras três portas pela Rua Gumercindo até recentemente eram alugadas no sistema de Casa de Cômodos. A famosa Teixeirinha – que veio a ser dona de um cabaré que marcou época na cidade -, quando veio morar por aqui, habitou um dos quartinhos. Dos outros dois quartos – socorro! - quem lembra os moradores? Além das portas existia um portão que dava para um pátio onde moravam várias famílias nos quartinhos de aluguel do seu João Rodrigues. Defronte à Sete Portas (onde hoje está a quadra de futebol do Lui), um grande campinho, bem cercado, onde o Seu Pindoca, pai do Garoto e da Negra do Seu Dário, cuidava de suas vacas. Lembranças, lembranças...

Um comentário:

Solismar disse...

Lembranças...lembranças, Arnóbio cruzei por todos esses moradores do Beco...que você chamou de outra Sete Portas. Esses ilustres moradores narados por vosso pessoa tem histórias marcada na minha memória. Faltou relatar a linda Maribel, morou em uma das portas e depois ficou proprietária do Cabaré da tia Rosa. Acontecido, o Timódeo vendeu um patê pra finada Nidi (empregada da minha mãe) fabricado no século 18 que a coloco na Santa Casa pendurada no soro por duas semana. Vigilância chegou e fechou o estabelecimento. O velho Timódeo ficou uma fera e dizia que não era ele que tinha vendido o tal patê vencido. Foi o acontecimento mais falado do mês no beco.

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