Al Di Lá

Você se lembra do filme Candelabro Italiano?

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Meus Tipos

Meus Tipos
Notável, mesmo, foi a tentativa de suicídio do Gabriel. Três horas da tarde. Verão. Pegou um revólver trinta e oito, depois de uma tremenda borracheira, e simulou um tiro nos miolos. Com o estampido, e a gritaria dos familiares acorreram os vizinhos mais próximos, ali do Passo do Simão. O Nelson Lima, o Negrito e o Lalau foram os primeiros e esperaram a chegada do Turco e do Nei do Abílio que vinham em desabalada correria. Na porta da garagem, aberta, um motor oito cilindros sem a tampa. Juntos, uma latinha de carburundum e as chupetas, davam a entender que estiveram no amacio das válvulas e aquela máquina saíria, logo, logo, rosnando da oficina. Sobre a calçada, o Ford do Gabriel, com banco no porta-malas. Dentro de casa, deitado na cama, vestido – e pelado por baixo - com um sobretudo preto, velho e puído, calçado com as tamancas coloniais, o Gabriel... Com a chegada de gente, parara a ronqueira e os olhos estavam semi cerrados, como se vigiassem o ambiente. O exame feito com o bafo, diretamente no espelho, indicava que ele ainda respirava. Quando os vizinhos se afastaram para um canto do quarto, para deliberarem sobre o que fazer, o Negrito, que escutava atento, mas não tirara o olho da cama onde estava o castelhano, comentou que o Gabriel abriu um olho e revirou-o. Viu, mais, que ele mexeu com a cabeça em direção à porta onde estavam à espera do desfecho. O Negrito, se afastou então dos outros, chegou mais perto do Gabriel e foi no ouvido dele: Tu tá te fazendo, Castelhano plévia, isso só pode ser borracheira!!! Foi, então, que, ante o fiasco que patrocinara, ele deu uma levantada do corpo e confessou, baixinho, choramingando, ter brincado de se matar para ver se a velha dele ia chorar.
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Na mesma época, não muito longe da casa do Gabriel, na Costa do Arroio, o Ramão patrocinou outra não menos patética cena. A mulher dele, estranhando o barulho de um copo que caíra, tirando o silêncio do quarto, acendeu o lampeão. O marido, com o braço direito caído para fora da cama, revirando os olhos, deixava cair pelo canto da boca uma espuma cor-de-rosa. Foram socorridos pelo Tomás do Pichinango, patrão do Ramão e dono da granja onde este trabalhava de puxador da água. Ante a hipótese do doente falecer a caminho, o que seria uma broma a mais, por ser empregado, preferiu o Tomás, no seu jipe, buscar o médico na cidade. Ali do Empedrado era um tirinho de quinze minutos. Foi um vapt – vupt e o Doutor Nilo já estava à beira da cama do paciente. Sobre o bidê uma lata de veneno com tarja vermelha e a figura clássica da caveira com as tíbias. Acordado e auscultado, o doente nada tinha que justificasse a soneira e a espuma sangüínea que lhe saía das entranhas. O médico fazia conta de cabeça para um diagnóstico preciso quando, observando o chão do quarto, viu uns papeizinhos de embalagem de Melhoral Infantil. Será???... Era!!!... O Ramão tinha tomado um copo de cachaça, com uma pilha de comprimidos, porque a mulher dissera que não o queria mais. O Nilo, de saída, ficou uma fera. Depois, já mais de meia-noite, quando o Tomás deixou-o de volta em casa, e quis pagar a consulta, desceu do jipe, e, casmurro como era, bateu a porta com força, dizendo: - Olha, Tomás, de simplidade eu tô até aqui!!! E, com vontade de rir: - Soca o dinheiro da consulta...

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