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segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Navidinha

Para o Valdir Veiga Pereira

Meu pai, nascido na região do Rincão Feliz, foi vizinho e amigo do Navidinha e dele contava coisas que, aos meus ouvidos de menino, tinham o mesmo sabor das contadas pelo Blau Nunes, das atribuídas ao Pedro Malasartes ou ao Bocage. Causos, ditos, passagens da vida deste cidadão, negligentemente, tive a desdita de esquecer. Quando professor em Herval, por diversas vezes, viajei de ônibus com o Navidinha e a Dona Chininha, sua mulher. Conheci, ainda, seus filhos Nair, Natália, Emília (a do Girdo, se não me falha a memória) e o Aldrovando, meu amigo, morador na Airosa Galvão, que vem mensalmente ao Arroio Grande, onde recolhe, com religiosidade, a sua aposentadoria. Além das célebres rosquinhas com glacê, lembradas numa excelente crônica do Jarbas Acevedo para o jornal O Herval em certa ocasião, e mais duas ou três histórias que, contadas por meu velho pai, consegui guardar, tudo o mais perdi. Muitas passagens sobre a vida do Navidinha estão soltas, pois, na oralidade dos seus conhecidos e vizinhos, prontas e à espera de compiladores. Personalidade ímpar - com um linguajar inusitado -, ele foi esquilador, montava carpas em ocasiões festivas, vendia produtos da sua chácara e tinha lá a profissão de produtor rural. Numa ocasião, embarcou ele com a mulher trazendo cada um uma lata com ovos para vender na cidade. O ônibus era da Rainha, o motorista o Darinho Carriconde e o cobrador o Dalmo. Atrapalhando a entrada dos passageiros já estava o tarro do leite que o Cilzo Freitas embarcava diariamente. Pois, ao lado, quis o Navidinha colocar as duas latas de ovos quando já não havia mais espaço. Ante a negativa do Darinho ele sentou-se com a Dona Chininha lá nos últimos bancos do ônibus ambos levando no colo as latas. Mas, antes, se queixara: - Pô! Seu Darinho, o leite do Cilzo o senhor leva na frente e os meus ovos o senhor bota atrás! Era assim! Quando ensinou os filhos a esquilar dizia ser a Natália a de mais talento. Tudo por que ela pegava uma tesoura do Chico das Puas e se atirava de talho aberto quando pegava uma ovelha bem lanuda. Quando o acompanhava o filho Aldrovando em alguma comparsa, ele orientava o aprendiz. Num dia de tosquia em que o Aldrovando beliscou demais uma ovelha, o Navidinha professorou: - Não, assim não! Capiça mais Drovano, capiça...

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