Al Di Lá

Você se lembra do filme Candelabro Italiano?

segunda-feira, 29 de agosto de 2011


Merengue

- Tempos bons aqueles... Disse, com o olhar perdido na tijoleta da calçada. – Aquilo é que era tempo... - repetiu -. E eu, admirado - admirado, mesmo -, pensei com meus botões se teria o meu interlocutor com tal estultice sido assaltado momentaneamente por uma doença chamada saudositite? Divagaria sobre aquelas raríssimas quermesses que se realizavam sempre entre o clima ameno de um fim de primavera e o início do outono, lá no Colégio das Freiras? Seria a lembrança daqueles esporádicos bailes do Beca, ou da Casa Queimada, que turbinava sua saudade? Será que recordava as matinés ou as antigas sessões de domingo no Cine Marabá? Estaria se transportando - no tempo - à descalçada Doutor Monteiro com o Izidoro, ou o Boquinha, tapando-o na poeira de um Gordini 1093, a coqueluche da época? Definitivamente, eu tinha achado um tipo à moda antiga. E o que fazer, senão obrigá-lo a por o Tico e o Teco que havia dentro daquele mogango em cima dum pescoço a espernearem em busca de uma luzinha? Ponderei, então: - Não via ele que a gurizada dos points de hoje faz de três ou quatro quadras da via central da cidade, de quarta-feira a domingo, uma média de duzentas e tantas quermesses, por ano. Não via ele que somando os bailes do Babalu (também chamado de Porta da Esperança), os de terceira idade (que são dois ou três grupos diferentes - num deles chega a ser proibida a entrada para menores de vinte e cinco anos), os do Buraco Quente (apelidado, carinhosamente, de UTI: Última Tentativa dos Idosos), chegam a mais de quatrocentos bailes por ano. Tudo sem falar em festividades paralelas ligadas ao tradicionalismo. Mais, como o nosso interlocutor enfrenta a dura realidade de uma comparação daquelas antigas sessões do Cine Marabá com os filmes que nos oferecem hoje: Várias locadoras (com milhares de filmes a escolher); Temos o cinema em casa com transmissões via internet, via parabólicas (diversos satélites à disposição)... Milhares de filmes por mês. Ainda, nos transportamos por toda a cidade, asfaltada ou calçada, tão confortavelmente, que é baixíssimo o índice de pessoas que chegaram a conhecer o uso da galocha para os dias chuvosos e barrentos daquele tempo do pesco. Ah! Bichão! Não. Não quero tripudiar em cima dessa tua ingenuidade extemporânea, mas, repara naquela esquina do Clube Caixeiral, aos domingos, à noite: São cinqüenta e dois merengues, por ano, para as crianças dançarem das quatro horas até a meia-noite. Tudo, contra três bailes infantis que tínhamos, naqueles tristes tempos... Sempre depois de esperar o corso da duquesinha e sempre terminando às dez da noite. - Olha, cara, vai te catar... Põe essa tua viola no saco... Deus nos reserva, ainda, um tempo melhor que o de hoje... Repara, que Ele está só nos mostrando aos pouquinhos... Como quem come mingau quente: pelas beiras... É esperar e ver...

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